terça-feira, outubro 29, 2024

 

Roller Coaster


Michael tells me

dating is like a roller coaster

fun – but a lotta ups and downs

 

*

 

while at dinner

the glowing thing in my pocket

coyly whirs against my thigh

and a person I have met once

now thousands of miles away

has sent me parts of her body

we used to whisper about at sleepovers

 

*

 

Dan tells me about his wife

uses words like happiness

without caveat

or attached guru

 

but still cannot help asking about

what it must be like

to discover a whole body

to gently approach the shore

of a willing continent

that does not ask to build a shelter

 

*

 

I wake up next to a body

we chant words

that sound mostly like

I am not lonely now

 

now clothed

she says plainly

I have some other errands to run

& I think on the small cruelty of the word other

 

*

 

my family & I visit Disneyland

I ride the coaster

I was too young for as a child

 

I think less

about the brightly colored cars

charging up toward the sky

& racing down toward the ground

 

more than audible thrill

as we come

quickly around some corner

we cannot see past

 

but even more, the muted shuffling

as we exit

remembering to not leave

anything important behind

 

the quiet

as we turn our back

wondering where to go next

 

I think I am ready to go home

my sister says

 

I nod

 

 

Phil Kaye in Date & Time



sábado, setembro 07, 2024

 

‘Come on, Hoda. Don’t rain on my parade. I’m a grown-up now and I need to live according to a formula. I want to get married and I want to have kids. Besides, we’re already engaged.’

‘But marriage isn’t supposed to be built upon a formula.’

‘Sure it is. You and your husband Tarek have an agreement. If he cheats on you, you look the other way.’

‘Yes, we have an agreement, and I may turn a blind eye to his mistakes. But I know that he loves me as much as I love him, even more. He treats me very well, and I love that.’

‘I’m going to love Sulayman, too. He’s great. I understand him even more. I have no problem with marriage.’

‘There’s a big difference between loving someone and accepting them.’

‘There’s a passageway between love and acceptance that one has to keep open. Sometimes you don’t even notice that it’s open. And with love, the other awakens something inside of you, something you nurture as much as necessary. Just like a flower, and you know that it only lives as long as you water it.’

‘What are you talking about? I can’t just decide how much to water my love. Love is as irrepressible and as undammable as a raging river. Maybe you’re talking about one kind of relationship. There’s companionship and affection, but there’s a difference. The love that I’m talking about comes with passion and dizziness, with lots of words, true romance and real adoration.’

‘Look, Hoda. I don’t want to leave the window fully open anymore, to let the curtains flap in the breeze. It’s true that if you open a window the air gets a bit more pleasant, but everything can get all messed up, all your stuff can get blown around. You might get cold, too. No, I’d rather just open the window a little bit or else shut it and run the air conditioning by remote control, to just sit here and feel safe. It’s much easier when things are clearly defined, when you know exactly where you stand. If you open the window just a little, you can count the stars, but you go out under a vast sky, you can’t count them all, you get lost, you get all confused.’

‘But there are more beautiful things. If love leaves you exposed under a vast sky, can’t you see how many stars there are up there?’


Alawiya Sobh, This thing called love (translated by Max Weiss), p. 207-208


sábado, agosto 24, 2024


O que ela me contou 


O que ela me contou foi que nunca houve uma obrigação ou uma direção religiosa em sua casa. Nunca tinha sido levada com tom de "assim é que se faz" pra uma igreja ou para um terreiro. Mas sua mãe frequentava um terreiro de umbanda que ficava na vizinha, na vizinha mesma de muro contíguo. Dessa primeira história que ela me contou, guardei o seguinte: "Eu até via minha mãe dançar no terreiro". Pelo que entendi, sua mãe era mesmo adepta da religião, chegava mesmo a incorporar e participava ativamente das práticas. Achei interessante essa visão de olhar de criança, que apreendia provavelmente pouco menos que uma dança nos ritos todos.

Alguns anos depois, uma sua irmã mais velha teve um quadro diagnosticado como epilepsia. Em busca de respostas e refocilamento na situação, a família consultou um babalorixá da umbanda, o qual as redirecionou para o candomblé. Lá a irmã foi tratada e iniciada, fez o santo. Não acompanhei ao certo o que isso fez com os ataques de epilepsia, mas dessa segunda história que ela me contou, guardei o seguinte: "A manifestação religiosa mais linda que já vi na vida foi a minha irmã dançando no centro do terreiro, com a indumentária de Oxum, velada com as contas e levando o espelho, enquanto todos pareciam lhe prestar homenagem". Achei linda esse olhar amoroso de uma criança com seus doze anos, que apreendia apenas a beleza nos ritos todos.

Alguns anos depois, usando-se da ideia de dois de seus irmãos mais velhos, que se haviam por livre e espontânea vontade inscrito para um curso de catequese numa igreja católica, foi ela acompanhada de uma amiga para o mesmo curso, onde se educou daqueles ensinos por curiosidade sua. Imagino que esses ensinos lhe tenham servido de porta de entrada para as visitas que passou a fazer à igreja católica, muitos anos mais tarde, acompanhada de seu companheiro, quando viviam o luto de uma perda imensa. Contou-me que os encontros de casais foram um oásis no meio da dor, e as visitas se intensificaram e mantiveram por um longo período de meses.

De todas essas lindas histórias que ela me contou, guardei no meu coração a serenidade que sempre ouvi em sua voz e os olhares brilhantes com algumas dessas lembranças. E a sensação de que deve ter sido maravilhoso poder olhar para todas essas manifestações do sagrado e da fé com olhos imediatos, sem que ninguém lhe forçasse uma visão de mundo ou uma verdade que despreza todas as outras como coisa maligna. Amo cada vez mais a leveza.  

segunda-feira, agosto 19, 2024


Andrew Scott, Tio Vânia, Pentesileia


Estou apaixonado pelo Andrew Scott. Essa forma totalmente latina de me expressar me parece fazer total sentido. Depois de vê-lo no (por mim) muito esperado All of us strangers, um filme lindo com um final pavoroso, e me impressionar muitíssimo com a expressividade dos seus olhos pretos, me dei conta de que já o conhecia de Fleabag, uma minissérie em que ele faz um padre na segunda temporada. Uma minissérie muito boa, diga-se de passagem, cuja segunda temporada é um encanto de delicada e profunda. 

Hoje foi a vez da adaptação de Chekhov, Vanya, em que ele interpreta todas as sete personagens sozinho no palco. Lindíssima atuação, cheia de nuances e momentos de extrema emoção e comoção, mesmo, as expectativas criadas pelos muitos elogios e resenhas positivas não se frustraram. Um milagre.

Poucas vezes me vi tão envolvido com uma peça de teatro a ponto de lê-la e a alguns comentários críticos como preparação. A última vez que me lembro de ter feito algo parecido foi quando revi, há três anos, a adaptação que o Peter Brooks fez do Mahabharata, algo que comentei aqui. Também me lembro de ter lido uma peça do Plínio Marcos, talvez Navalha na carne, sei lá eu, mas meramente porque ia vê-la no teatro e, como acho suas peças pouco palatáveis, preferi ler o enredo antes, pra não passar mal durante o espetáculo.  

Enfim, feliz de ter me colocado nesta aventura, que ainda tem prevista uma leitura (a introdução de Elizaveta Fen à tradução em que li Tio Vânia) e outra adaptação teatral filmada (a de Conor McPherson) num DVD que comprei para poder ver. A que extremos me leva minha empolgação lunática, nihil noui sub sole. Ainda achei três filmes que mencionam a peça de alguma forma numa plataforma cultinha de que tenho assinatura. 

Espero que a empolgação se mantenha e que a frustração não se imponha na semana que vem, em Berlim, quando vir Penthesilea: Ein Requiem, direção de Nino Haratischwili. Espero mesmo, daí quem sabe me empolgo pra ler o livro premiado dela. Ou o outro, o quase premiado. 

23/3/2024

quinta-feira, julho 18, 2024

Que legal

Vez por outra acontece: Achei aqui agora um texto de agosto do ano passado, de logo depois de ter me mudado de volta pro sul de Hamburgo. Bacana ver a menção à (insuportavelmente) longa, porém agora concluída, revisão da Tese, cuja versão final impressa entreguei hoje à biblioteca para a publicação online.  





Estou tendo dias difíceis. Em geral por uma série de situações que se sobrepõem quando mudamos de apartamento, o que fiz há uma semana, mas também por uma série de questionamentos que julgo serem próprios da idade, a partir do que presenciei de colegas e amigos já mais velhos. No que diz respeito à mudança, tirando os pontos normais de mudança de endereço de contas, preparação de apartamento para a entrega, preparação do novo apartamento para a vida nova, adaptação ao novo bairro, etc.-etc.-etc., ainda estou há uma semana com geladeira e máquina de lavar pifadas.

Das coisas novas e que nos vão caindo aos poucos, hoje foi um dia exemplar. Depois de trabalhar umas duas horas ou menos na revisão da Tese que parece nunca acabar, saí para almoçar no restaurante universitário que tenho no bairro. Aqui fica a Universidade Técnica de Hamburgo (TUHH), e o restaurante universitário, a Mensa, é aberta, com preços um pouco mais caros, para não estudantes que a quiserem visitar. Gosto de ir lá porque os pratos são bons, há uma boa variedade, os preços são muito acessíveis — e ainda dá pra ver uns mocinhos bonitinhos de quebra, não poucos deles indianos. Só pra ver mesmo, porque, além de muito complicados, os alemães são extremamente etaristas. Saí de lá com o Sol tendo retomado seu posto de aquecedor da vida e resolvi abrir meus olhos e ouvidos pro mundo pra ver se meu mau humor melhorava um pouco. De cara, dei com uma loja que já havia visto, mas que não tinha noção do que era. Artigos para a casa. Bom saber que há uma tão perto.

De lá, fui seguindo aleatoriamente por um caminho que me deixou em um dos muitos centrinhos comerciais do meu novo bairro (Harburg). Fui parar numa loja de comics, pequena pros olhos e enorme na variedade da sua oferta, onde fiquei pasmado, como sempre, com o tanto de dinheiro que eu poderia gastar sem piedade em gibis e mangás e graphic novels e afins de uma tacada só.  Achei muito louco também que, enquanto esperava o moço da loja voltar de um café, consegui me conectar com o Wi-Fi de um centro de reabilitação que fica (creio eu) em cima da tal lojinha.

Me enfiando por ruas desconhecidas, dei de cara com uma loja de tapetes que eu já tinha visto uma vez, há uns quatro anos, quando fui pra uma apresentação musical num centrinho cultural de Harburg. No mesmo bloco ou quase, um mercado turco, em que entrei e pensei coisas tristes: a música que estavam tocando era um troço alto e agitado que dava vontade imediata de começar a dançar. Senti uma leve melhora no meu humor e pensei em como a Alemanha é, em geral, deprimente, coisa que quase todos os meus amigos brasileiros que tiveram algum cotidiano aqui reafirmam repetidamente.

Por fim, fui parar quase de caso pensado numa praça onde há Wi-Fi funcional. Continuo sem internet em casa — parêntese para explicar o monotópico. Olhei emails e coisas que tais rapidamente e me dirigi pro posto das bicicletas da cidade, pensando em alugar uma e voltar pra casa pedalando. Lastimavelmente, o Wi-Fi não pegava onde elas estavam, mas eu redescobri um mural lindíssimo, que já não me lembrava onde ficava. É o mural da foto, e tenho certeza de que é desnecessário explicar por que essa praça — onde tem uma lojinha chama "Hot dog do mano gordo", em que um dos cachorros quentes tem macarrão como parte do recheio — parece que vai se tornar uma das minhas favoritas da região.   


quinta-feira, junho 27, 2024


ebo



Minhas reflexões sobre religião datam de muito tempo, creio eu que, ao menos individualmente, desde que saí de casa e fui morar no alojamento estudantil da USP, onde passei a me confrontar com situações que exigiam de mim certas tomadas de decisão que me impunham o questionamento dos que eu julgava serem, até então, meus valores. Muitos eram apenas costume adquirido de uma educação religiosa falha e nada tolerante recebida no seio de uma das muitas denominações neopentecostais que proliferam no Brasil.

 

Por essa época também foi que Luana, uma amiga minha, em meio às suas buscas, me apresentou a Joseph Campbell. Uma das coisas que ele diz – na famosa entrevista de que anos depois eu me permitiria revisitar em livro e DVDs – certamente com melhor expressão, é algo que reli numa postagem de Instagram esta semana: a sua religião de hoje é a mitologia de amanhã. Pensar o cristianismo (ou o que eu então conhecia como tal) como uma mera mitologia me parecia blasfêmia – pra dizer o mínimo. Mas essa afirmação, junto de outras, havia plantado uma semente. Outras duas sementes poderosas foram apaixonar-me pelo hino a Kali das meninas do Mawaca, para só bem mais tarde descobrir “o que” era Kali, e pouco depois por um moço do candomblé.

 

Na minha origem cristã, o candomblé (e mesmo a umbanda e o espiritismo kardecista) só se definiam como “coisa do diabo”, outra definição não havia. Uma coisa dita por esse moço, que então me criou muitos pontos de interrogação na cabeça e que me acompanha desde então, foi que uma das festas no terreiro que ele frequentava tinha sido “bonita”. Eu não dava conta nem de imaginar o que podia ser bonito num terreiro de candomblé, pra mim sempre associado a uma barulheira infernal e às possessões. Aqui cabem duas explicações: primeiro, eu havia presenciado, muito, muito novo, uma “baixada”, cuja gritaria, de um lado, e o assombro dos cristãos presentes, do outro, só fizeram me dar medo; segundo, bonita? Eu jamais tinha olhado pra religião com olhos de admiração estética, isso não fazia o menor sentido. Ainda mais porque, pensando, como não pude deixar de fazer, o que vivenciava nos cultos da minha igreja, eu lamentavelmente não tinha nada que pudesse qualificar, de bom grado e sem inúmeras notas de rodapé, de “bonito”. E o questionamento: o que pode haver no candomblé que esse menino acha bonito, gente? Cheguei somente a duas possibilidades: o branco onipresente e o “resguardo” (acho que assim se chamava), uma espécie de regime de abstenção múltipla que os praticantes se impõem em prepação para os ritos de divinação. Duas coisas que, sem muito cuidado de análise, a gente logo entende que entravam no meu limitado escopo de compreensão de mundo e de religião sem muito esforço.


Saltemos desses idos de 2000-e-muito-antigamente para o presente: em busca de uma seleção de mitologias que fizessem sentido para o trabalho com crianças do sexto ano na semana de projetos, saindo da ideia louca de trabalhar itens de uma mitologia distinta por dia, acabei aterrissando na minha herança cultural: a mitologia iorubá e as mitologias aborígenes. Tem sido uma bela viagem. Parte importante dela está sendo a leitura de um longo texto que apresenta introdutoriamente a filosofia, a estrutura e muitas das concepções das manifestações religiosas ligadas à mitologia iorubá, uma gentil correção de conceitos tão errados que carreguei por toda a vida, uma amorosa abertura de olhos para o desserviço que os ministros da minha religião fizeram e fazem a tudo que não aprovam – basicamente tudo que é outro.

quarta-feira, maio 29, 2024

 

Postcards from the Underworld, Sinan Antoon

Psalm

In the beginning was the stab

The dagger made the wound

in its own image

then went away

 

searching

for another body

 

The wound wept

for forty days

then healed

 

It became a heart

and crawled away

 

searching

for another body

 

 

The New God

We looked at the map

All those rivers we had crossed

searching for that new god

the priests said

he was born for our sake

When we reached his homeland

We found crowds

marching in his funeral procession

We joined them

They told us

of all those rivers they had crossed

searching for the new god

the priests said

he had died for their sake

 

 

From Eve’s Confessions

 

I was the voice of the wind

and when it grew tired

I descended from its ribs

and left it

weeping everywhere

for me

 

I walked on water

a thousand years

then created myself

on the earth’s skin

and when I was bored

I made Adam

God was a mere game we played

 

 

In My Next Life

 

In my next life

I will not be I

 

I will be a wild flower

Lying on the slope of a distant hill

butterflies will alight on it

A child who never lived through war

will pluck it

and take it to his mother

will place it between her breasts

She will kiss him

and smell me

and I will smell her

 

. . .

 

In my next life

I will not be

 

 

 

Sifting

 

My eyes

are two sieves

sifting

through piles of others

for you

 

Cairo, August 2003

quarta-feira, maio 15, 2024

 

Sobre o meu nome


Há muito tempo, tanto que já nem lembro em qual fonte exatamente, para ser sincero, li que o significado do meu nome, Everton, era “lei, pela lei, da lei”. Adicionando a esse significado, supostamente do teutônico, os da “floresta” do meu nome do meio e o do “nascimento de Cristo” do meu segundo sobrenome, achei que era uma combinação interessante que me deixava como alguém que se orientava pela lei, às vezes uma bruta e selvagem, às vezes uma humana e amorosa. Mas eu nunca mais reencontrei esse significado explicado ou detalhado novamente.

Faz um mês e pouco, entrando numa das bibliotecas circulantes de bairro que há por aqui (as minhas amadas Bücherhallen), encontrei uma longa prateleira de dicionários de nomes. Um deles, provavelmente por ser mais colorido, mais volumoso, ter um bebê lindo na capa (e ter autoridade do símbolo do Duden no topo direito) me chamou a atenção e veio comigo pra casa. Eis o que descobri (ou construí):

Evert viria de Everhard, uma forma de Eberhard, originário do alemão antigo e com o significado de “javali” + “duro, forte” = duro, forte como um javali. Nada mal. Mas e o  -ton do final? Segundo o dicionário, Ton é uma forma abreviada de Anton, originário de um nome familiar latino... sem significado explicitado no tal dicionário. Divulgado pela net estão os significados de “valioso, de valor inestimável, digno de apreço” e “alimentado de flores, sensível” para Antônio. Bibidi-bóbidi-bum.

domingo, janeiro 21, 2024

 

Lista de 2023


1) 1o./1 – Guy Alexandre Sounda, Confessions d’une Sardine sans tête

« Je viens d’un pays qui pue la fin des nouilles, un petit pays tiraillé entre le fromage et le foufou, entre la rumba et le jazz, entre la bible et les fétiches, entre le gazon et la paille, un tout petit pays de cinquante-cinq mille kilomètres cruellement carrés où les hommes vivent de bières et les femmes de prières, où les gosses rêvent de révolutions et de révoltes à la belle étoile en s’entraînant avec des fusils en carton dans les arrière-cours infestées de moustiques ! » (p. 215)

2) 3/1 – 14/2 – Batgirl – Die neuen Abenteuer, Cameron Stewart, Brenden Fletcher, Babs Tarr et alii, übersetzt von Marc Schmitz (Bd. 1), Carolin Hidalgo (Bd. 2 & 3)

 

3) 3/4 – Peter Lauster, Die Liebe – Psychologie eines Phänomens

Um livro interessante com algumas teorias que dão o que pensar (dissociação de amor e sexo, relacionamento/casamento/formalizações sociais como asfixia do que é/deve ser o amor de fato, relação do nascimento do amor com mindfulness...), apesar de algumas ideias já ultrapassadas (amor como um sentimento entre pessoas de sexo diferente, por exemplo). Não sei se é uma leitura que eu recomendaria, nem muito menos se é uma que eu faria de novo.    

 

4) 13/6 – Anuja Chandramouli, Kamadeva – The God of Desire

Postei já um trecho do livro, que achei bacana, mas nada de excepcional. Tive a impressão que tenho tido com muitos romances: o começo te convence de uma qualidade (no texto, na narrativa e nas ideias, em geral) que não se confirma pra depois do primeiro terço de páginas ou, na melhor das hipóteses, da metade delas.

Minha nova monomania, Kama ou Kamadeva é o deus hindu que já vi descrito como deus do amor, do desejo, da paixão e da sedução. Já nem me lembra como o descobri, mas a jornada tem sido divertida: busca de imagens pelo Insta, de informações e narrativas que fossem mais longas que um verbete de enciclopédia, de livros relacionados. Até agora foram este e mais dois: Kamadeva’s Pleasure Garden – Orissa (Thomas Donaldson) e Auguries of a Minor God (Nidhi Zar/Aria Eipe).  

 

5) 11/8 – Neuanfänge – Zeit, etwas zu verändern, umzubauen, aufzubrechen – so kann es gelingen, Psychologie heute Compactheft nr. 72

Uma das duas revistas de Psicologia que chamaram minha atenção já em 2013, quando da minha primeira vinda ao Zale, é essa “Psicologia hoje”, que tem, além dos números normais, que creio serem mensais, esses cadernos especiais que reúnem artigos vários em torno de um tema. Achei que esse sobre “novos começos” seria uma boa leitura para os meses em que preparava a mudança de Norderstedt de volta para Hamburgo e o início da famigerada “qualificação de adaptação” (que começa já na segunda, 14/8, com seminários de dia inteiro por uma semana...). Foi de fato uma excelente escolha. Muitos bons artigos, com noções novas e narrativas de “causos” interessantes com bibliografia adicional me ajudaram bastante nas minhas reflexões dos últimos dias — e isso sem contar as colunas “dicas práticas” (Praxis-Tipp), “correspondência” (Meldungen) e “livros” (minha favorita) que complementaram bem o prazer que foi essa leitura.

 

6) 12/8 – Jean-Michel Ropars, Ulysse dans le monde d’Hermès

 

7) 13/10 – Nidhi Zar/Aria Eipe, Auguries of a Minor God

Um livro curioso, de que já nem lembro como chegou ao meu conhecimento. Provavelmente em uma das minhas buscas frenéticas e sem muito rumo, empreendidas na distração de trívias que se encadenam. O mote dos poemas (o que me interessou) era Kamadeva, cujas cinco flechas dão nome às cinco seções iniciais. Isso eu li. Depois vem um poema bem longo, tão interessante quanto cansativo, cuja leitura diminuiu meu entusiasmo e se arrastou por dias, até que eu esqueci o livro no trem que me levou pras minhas belas férias em Frankfurt. Vai ver o esquecimento foi subconscientemente motivado, já que isso já aconteceu outra vez, exatamente quando estava “pra terminar” (faltava um terço mais ou menos) o livro Flights de Olga Tokarczuk, que me havia sido recomendado com extremo amor por uma amiga polonesa...

 

8) 29/10 – Beziehungsfähig – Sich aufeinander einlassen, Probleme gemeinsam meistern, die Liebe bewahren, Psychologie heute Compactheft nr. 73

9) 15/11 – Rachel Smythe, Lore Olympus 1 & 2 (vol. na tradução em alemão de Hannah Brosch)

Óbvio que não terminei de ler os dois volumes, que são dois patacos, no mesmo dia. Até porque hoje foi o dia da minha segunda Hospitation, a primeira com a docente de didática especial do Latim... um estresse enorme na preparação e na execução. Consequência quase inevitável: o resto do dia foi entre a cama e as séries, aqui e ali trocando uns áudios podcasts com amigos queridos. Tratamento intensivo de autocuidado e reestruturação da saúde emocional e mental da pessoa. A coisa é que me esqueci de pôr o volume 1 na lista na data certa, então hoje entram os dois juntos. A graphic novel é linda, uma graça tanto na arte quanto no enredo. Doido pra começar o volume 3.    

10) 22/11 – Rachel Smythe, Lore Olympus 3 (vol. na tradução em alemão de Hannah Brosch)

11) 12/12 – Peter Wick, Jona – Ein Freundschaftsdrama zwischen Gott und seinem Propheten zugunsten der Menschen

Esta foi uma leitura rápida e bacana das duas que escolhi para o período do Advento. Fiz uma postagem em que a mencionava, e foi interessante pensar Jonas como um missionário revoltoso, além de ver o seu efeito como profeta mesmo quando não verbalizava nada que se pudesse assemelhar ao amor divino.

Vindo agora postar este título, passei os olhos pelas primeiras leituras deste ano e reexperienciei uma sensação que tenho com frequência com estas listas de balanço: o que li no começo do ano parece ter sido há tanto tempo, quase certo de que nem me lembraria, não fosse este hábito meu tão caro de preparar estas listas. [Abre um sorriso.]  

12) 22/12 – Ilse Sand, Die innere Mauer – Beziehungsangst überwinden, Nähe zulassen


quinta-feira, janeiro 11, 2024

 Será a idade?


Estive na casa de uma amiga para a celebração do Natal. Como o namorido dela é um moço fofo que sabe mexer com computador (e já-já reforço: tecnologia não é nem um dos meus fortes nem uma das minhas paixões nesta vida), levei o meu popopó de já quase dez anos pra ele atualizar, limpar e fazer todas essas outras coisas de manutenção que as pessoas normais fazem sozinhas -- eu não, por pura incompetência. Na volta pra casa, para não falhar numa tradição já bem consolidada, esqueci algo na casa da Mica. O problema fundamental é que foi o cabo carregador, e a tese continua sendo revisada a lentos passos e lento passar de páginas, e a sua publicação precisa ser feita até o começo de fevereiro, para o caso de eu não receber a prorrogação de prazo que já solicitei. Com isso, o carregador era fundamental para os últimos três dias das minhas merecidas férias, nos quais o plano era trabalhar assídua e metodicamente na tal da tese.

Um dia depois do meu retorno, tendo quase criado um novo hábito alimentar nas visitas festivas do fim do ano, resolvi cozinhar uns ovos para tê-los já prontos e a mão. Como não tinha muita noção de quanto tempo precisaria até a água ferver e os ovos cozerem, pensei que meia hora seria um tempo razoável, o que me daria também a possibilidade de ver um episódio de uma série. Teria funcionado, se não fosse eu ter dormido e acordado uma boa hora depois. Levantei para ir ao banheiro e me surpreendi com a luz da cozinha acesa, o que me fez olhar pra porta dela com mais atenção e me dar conta de que tava rolando toda uma fumaça lá dentro. Pois é: a panela esquecida no fogão já tinha lançado a tampa pra longe, ovos esturricados e explodidos fizeram da minha cozinha um pandemônio fedido. Teve fumaça fugindo pro corredor, alarme de incêndio, telefonema pra síndico e o escambau. Podia ter sido bem pior. 

Aí, dois dias depois do meu retorno, eu me dou conta de que perdi a data de devolução dos livros em uma das muitas bibliotecas que frequento. Eram seis. Devolvi um e fiquei com cinco numa bolsinha branca de pano, além de dois que estavam na mochila, para devolver (dentro do prazo!) numa outra biblioteca. Já na segunda biblioteca, devolvi os dois títulos e descobri um dicionário de nomes bacana que deve render uma outra postagem daqui uns dias. Saí de lá serelepe e contente (ou, como diz um amigo meu, "todo pimpão"), caminhei até à estação de metrô e andei uma estação antes de perceber que havia esquecido a bolsa de pano. Liguei pra biblioteca, pedi que a buscassem onde eu supunha que a tinha esquecido, fiz todo o caminho de volta. Ao chegar lá, nem as funcionárias nem eu encontramos a bolsa. Daí me lembrei que tinha passado por uma livraria no andar de baixo do centro comercial onde fica a tal biblioteca e me perguntei se não teria pousado a bolsa no chão ou algo assim... estava descendo as escadas em direção à livraria quando me lembrei que, ao chegar à biblioteca, assim que tirei os dois livros para a devolução, aproveitei o espaço aberto e pus a bolsa de pano com os cinco livros dentro da mochila. Resumo da história: depois de uma boa meia hora telefonando, voltando, procurando, me dei conta de que os livros perdidos tinham estado durante todo o tempo nas minhas costas. 

Nesse mesmo dia, de noite, o meu popopó novo chegou. A tecnologia é uma maravilha, né? Nada como poder passar todos os dados do computador anterior para o novo de forma automática. Mas o velho precisa estar ligado. Difícil, com os 7% de bateria restantes e sem cabo carregador. Mas a Mica já tinha mandado o cabo, e ele estava numa estação de armazenamento dos correios que fica na minha esquina. São uns armários modernos que se controlam eletronicamente (viva a tecnologia!); você vai lá com seu papelzinho da encomenda, escaneia o código e plópi!, abre-se uma das portinhas do armarião, você pega seu produtinho e volta feliz pra casa. Em tese. Lá fui eu no fio de zero grau até à esquina buscar o cabo. A estação daqui é mais moderna, não tem mais o computadorzinho que lê seu código de barras na notificação de entrega armazenada. Ali funciona assim: você lê um código queer com o seu celular, baixa um aplicativo, lê seu código de barras da notificação com o aplicativo, libera a abertura da portinha, pega seu pacotinho e vai feliz pra casa. Ou bem puto, sendo o meu caso o segundo. Afinal, por que eu teria levado meu celular pra ir à esquina buscar um pacote? Tive de voltar pra casa pra buscar o celular. Aproveitei o Wi-Fi pra já baixar o aplicativo. Quando cheguei de volta à estação, vi que o app não funcionava. Escaneei o código queer que tinha lá e vi que tinha baixado um outro dos três (?!) aplicativos da agência de correios daqui (a DHL). Tive que baixar o correto com meus dadinhos do 4G. Minha raiva só crescia. O app não leu o código de barras, e eu tive que digitá-lo manualmente. A ira tomava já conta de todo o meu serzinho de 1m63. Por fim liberou-se a portinha, e eu vim pra casa com meu cabo. 

... ou será só azar?