quinta-feira, julho 18, 2024

Que legal

Vez por outra acontece: Achei aqui agora um texto de agosto do ano passado, de logo depois de ter me mudado de volta pro sul de Hamburgo. Bacana ver a menção à (insuportavelmente) longa, porém agora concluída, revisão da Tese, cuja versão final impressa entreguei hoje à biblioteca para a publicação online.  





Estou tendo dias difíceis. Em geral por uma série de situações que se sobrepõem quando mudamos de apartamento, o que fiz há uma semana, mas também por uma série de questionamentos que julgo serem próprios da idade, a partir do que presenciei de colegas e amigos já mais velhos. No que diz respeito à mudança, tirando os pontos normais de mudança de endereço de contas, preparação de apartamento para a entrega, preparação do novo apartamento para a vida nova, adaptação ao novo bairro, etc.-etc.-etc., ainda estou há uma semana com geladeira e máquina de lavar pifadas.

Das coisas novas e que nos vão caindo aos poucos, hoje foi um dia exemplar. Depois de trabalhar umas duas horas ou menos na revisão da Tese que parece nunca acabar, saí para almoçar no restaurante universitário que tenho no bairro. Aqui fica a Universidade Técnica de Hamburgo (TUHH), e o restaurante universitário, a Mensa, é aberta, com preços um pouco mais caros, para não estudantes que a quiserem visitar. Gosto de ir lá porque os pratos são bons, há uma boa variedade, os preços são muito acessíveis — e ainda dá pra ver uns mocinhos bonitinhos de quebra, não poucos deles indianos. Só pra ver mesmo, porque, além de muito complicados, os alemães são extremamente etaristas. Saí de lá com o Sol tendo retomado seu posto de aquecedor da vida e resolvi abrir meus olhos e ouvidos pro mundo pra ver se meu mau humor melhorava um pouco. De cara, dei com uma loja que já havia visto, mas que não tinha noção do que era. Artigos para a casa. Bom saber que há uma tão perto.

De lá, fui seguindo aleatoriamente por um caminho que me deixou em um dos muitos centrinhos comerciais do meu novo bairro (Harburg). Fui parar numa loja de comics, pequena pros olhos e enorme na variedade da sua oferta, onde fiquei pasmado, como sempre, com o tanto de dinheiro que eu poderia gastar sem piedade em gibis e mangás e graphic novels e afins de uma tacada só.  Achei muito louco também que, enquanto esperava o moço da loja voltar de um café, consegui me conectar com o Wi-Fi de um centro de reabilitação que fica (creio eu) em cima da tal lojinha.

Me enfiando por ruas desconhecidas, dei de cara com uma loja de tapetes que eu já tinha visto uma vez, há uns quatro anos, quando fui pra uma apresentação musical num centrinho cultural de Harburg. No mesmo bloco ou quase, um mercado turco, em que entrei e pensei coisas tristes: a música que estavam tocando era um troço alto e agitado que dava vontade imediata de começar a dançar. Senti uma leve melhora no meu humor e pensei em como a Alemanha é, em geral, deprimente, coisa que quase todos os meus amigos brasileiros que tiveram algum cotidiano aqui reafirmam repetidamente.

Por fim, fui parar quase de caso pensado numa praça onde há Wi-Fi funcional. Continuo sem internet em casa — parêntese para explicar o monotópico. Olhei emails e coisas que tais rapidamente e me dirigi pro posto das bicicletas da cidade, pensando em alugar uma e voltar pra casa pedalando. Lastimavelmente, o Wi-Fi não pegava onde elas estavam, mas eu redescobri um mural lindíssimo, que já não me lembrava onde ficava. É o mural da foto, e tenho certeza de que é desnecessário explicar por que essa praça — onde tem uma lojinha chama "Hot dog do mano gordo", em que um dos cachorros quentes tem macarrão como parte do recheio — parece que vai se tornar uma das minhas favoritas da região.   


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