sábado, agosto 27, 2011

Saturday drops

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Acabo de sair da aula com o meu aluno perfeito, um americano a quem ensino português como língua estrangeira. Pelo meio dela, por causa de um exercício de leitura com os numerais ordinais, acabamos parando num mapa do Brasil, e ele me descreveu uma bela viagem que fez com o marido há aproximadamente cinco anos. Foram para Natal e lá alugaram um carro, fizeram uma espécie de road trip pela costa leste, passando por diversas praias e capitais. Ele, que é psicólogo, também comentou hoje sobre três pacientes, com que trabalhou, que tinham múltiplas personalidades. E eu pensei meu Deus, que pessoa interessante... é alguém assim que se deve ter para marido, mesmo. E o comentário é meramente platônico, que não tive nem tenho nenhum interesse no rapaz. Que já nem é tão rapaz assim.


Ao final da aula, ele comentou, sei lá por que cargas dágua, que o Rio de Janeiro está superlotado de americanos e turistas em geral. Quando ele viu essa notícia, que incluía o dado de que as escolas de idiomas andam fazendo listas de espera para as turmas de português como língua estrangeira, ele e o marido pensaram, de imediato, que eu estaria fazendo muito dinheiro, se estivesse no Rio.


E isso me fez pensar... se eu tivesse me mudado pro Rio, em vez de ficar aqui este semestre...


Eu estaria morando no Centro, dando aulas de português como língua estrangeira para americanos, em casa, cobrando a módica quantia de 100R/hora (o dobro do que cobro aqui). Numa dessas, eu encontraria um americano, que seria assim um loiro como o Justin Hartley ou um moreno como o Carlo Marks e a gente acabaria se apaixonando e se casando. A vida seria perfeita, e todos os probleminhas cotidianos estariam fora de cogitação. A gente iria, em algum momento, morar nos Estados Unidos, onde eu faria o meu doutorado sob a orientação do Raymond Marks ou do Augoustakis; cansados de lá, passaríamos algum tempo na Austrália, onde eu poderia fazer um pós-doc com o Cowan. E depois moraríamos um bom tempo no Canadá, no Québec, just for the fun of it. Com férias esporádicas na Europa e passagens obrigatórias pela Rússia, pra eu treinar meu russo.


É. Eu devia ter me mudado pro Rio em julho.




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Desde a quinta, quando recebi a notícia de que, depois de oferecer dois dias inteiros de horário para uma escola específica, não me seriam atribuídas novas turmas, porque não se haviam formado grupos, e a de que a minha hora-aula seria menos do que estava esperando, fiquei meio pra baixo e só fiz ver seriadinho americano. Meu orçamento está reduzido a um terço do que era... livros importados? Coisa do passado. Quinta das 16h até hoje de manhã na frente do computador, à base de enlatado.


Quando esse tipo de coisa acontece, eu corro aqui à lan, escrevo pra Mica e recebo colo quase imediato, tão imediato quanto a mediata distância Brasil-Alemanha permite. Desta vez, ela me sugeriu que não me sentisse tão culpado pelo tempo jogado fora, porque é necessário desligar-se, vez por outra. Daí, como de praxe, eu me lembrei da Luana, que, num email mais antigo, numa época de crise, me fez pensar na importância da arte na minha vida. E daí eu fui lá ao CCBM, um dos lugares de que mais gosto em Juiz de Fora, para ver as exposições fotográficas que venho ensaiando visitar faz tempos. Se valeu a pena...


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As fotos são, em sua grande maioria, muito bonitas; a seleção está diversificada, e a curadoria melhor em algumas salas que em outras. Como não podia deixar de ser, a exposição que mais me impressionou foi a da sala Daibert (um artista cujo nome já me encanta desde que cheguei aqui). Na verdade, a foto mais significativa para mim nem estava na parede, ampliada -- só a vi mesmo no livrinho de onde as que estavam grandemente expostas foram tiradas. Um homem, parado diante de uma árvore, é da altura de metade da medida da raiz. Bom pra lembrar a nossa significância. Ou insignificância.


Detalhe, explicação necessária: não há nada do Daibert na sala que leva o nome dele. Não desta vez, pelo menos.


A curadoria dessa sala está com a Nina Mello, fotógrafa daqui que também já tive o prazer de conhecer, responsável por uma galeria pequenina e charmosa no São Pedro, bem próxima do câmpus. A exposição se chama Paisagem Submersa e me deu o tapa na cara (freqüente...) do título que nada me inspira para me oferecer sensações fenomenais. Isso tudo adicionado ao gosto que tenho da curadoria simples e pouco pretensiosa.


A outra exposição que me fascinou foi a Inovar é preciso, de curadoria falha, muito falha, mas que conta com o fascínio dos jogos de cores de Gleice Lisbôa e o espetáculo do fragmento (encanto antigo, nós sabemos...) do Lomosaico de Marcelo Viridiano.