sexta-feira, dezembro 31, 2010

Bilan

Escrito ao som de Paisagem da Janela, na voz de Flávio Venturini.



E eis as nossas vinte e quatro


(rotina! rotina! rotinaaaa!
adoro criá-las...
e mantê-las...
até virarem tradição!)


leituras de 2009.

Data de conclusão, título, autor (e tradutor, às vezes)


1/ 13/1 - Chemin-d'école, Patrick Chamoiseau

2/ 22/1 - Geórgicas, Virgílio, nas traduções de:
canto I - Sérgio Monteiro Zan
canto II - Maurice Rat/Ruy Mayer
canto III - A. Feliciano de Castilho/Ruy Mayer/ Raul José Sozim
canto IV - Castilho/ Elaine C. P. dos Santos

3/ 25/1 - A bout d'enfance, Patrick Chamiseau

4/ 26/1 - O IV Canto das Geórgicas, Elaine C. Prado dos Santos

5/ 27/1 - Caim, José Saramago

6/ 31/1 - O Sol se põe em São Paulo, Bernardo Carvalho

7/ 16/2 - Antigone, Henry Bauchau

8/ 18/2 - Virgílio ou o segundo nascimento de Roma,
Pierre Grimal

9/ 19/2 - Os amores difíceis, Italo Calvino

10/ 5/3 - A relíquia, Eça de Queirós

11/ 4/4 - Os ossos da noiva, Charles Kiefer

12/ 8/6 - O último voo do flamingo, Mia Couto

13/ 13/7 - Estive em Lisboa e lembrei de você, Luiz Ruffato

14/ 28/7 - Memória de minhas putas tristes,
Gabriel García Márquez,
na tradução de Eric Nepomuceno

15/ 11/8 - Aulularia, Plauto,
na tradução de Walter de Medeiros (A Comédia da Marmita)

16/ 15/8 - Dona Anja, Josué Guimarães

17/ 16/8 - Os Adelfos, Terêncio, na tradução de Agostinho da Silva

18/ 25/8 - Por Arquias Licino, poeta, Cícero,
na tradução do Pe. Antônio Joaquim

19/ 4/10 - Apocoloquintose, Sêneca,
na tradução de G. D. Leoni

20/ 17/10 - Satyricon, Petrônio, tradução de Sandra Bianchett

21/ 6/12 - Introdução à Literatura Latina, Jacques Gaillard,
na tradução de Cristina Pimentel

22/ 8/12 - A Literatura Latina, Zelia de Almeida Cardoso

23/ 23/12 - As Heróides de Ovídio: uma tradução integral,
dissertação de Simone Ligabo Gonçalves

24/ 31/12 - Ensino de literatura: reflexões e possibilidades,
dissertação de Carina Rafael Vezzosi
+ uma coleção de artigos sobre o mesmo tema, com destaque para
Literatura e ensino de línguas não maternas: uma adequação necessária
de Sérgio Flores Pedroso

segunda-feira, novembro 08, 2010

A grande diva

E ela falou. Mas disse bem pouco.

segunda-feira, setembro 27, 2010

Os avozinhos

Da janela

Do alto do segundo andar, numa janela de vidro que permanece fechada a maior parte do tempo, ela observa a rua. A janela dá para uma rua-avenida bastante movimentada, e eu acho pacificador ver o tempo que ela pode gastar ali, fazendo nada, vendo o movimento.

Do outro lado da rua, outra avozinha passa horas na janela. O detalhe é que essa mora no primeiro andar, e a sua janela aberta nos permite ver os móveis do seu quarto, um guarda-roupa antigo. Com o olhar menos vago que a vizinha, esta senhora olha os passantes nos olhos, porque a altura da sua janela bem o permite.

E me lembro também da avó de uma colega de adolescência: uma senhora que era tida como louca, porque passava horas na janela, olhando a rua. De sutiã.




Sol na esquina

E lá ia eu na minha busca de uma luminária. Fazia já umas duas ou três semanas que eu estava nessa empreitada. Poucos dias antes, andando com um amigo, vi uma rua onde talvez houvesse lojas, onde talvez houvesse luminárias, onde talvez eu achasse algo que me agradasse. No sábado, então, depois da natação, fui até lá.

Quando chegava à esquina da rua, perto duns jardinzinhos, vejo duas avozinhas, uma sentada, uma de pé. Ques bonitinhas! Tomando Sol de manhã! No jardinzinho da esquina! A que estava de pé levava um cachorro pela coleira. E foi ela que disse algo de que só ouvi um naco durante a minha passagem:

“Aquela filha da puta que... e aí aquela piranha... cachorra! uma filha da puta, mesmo!”

Minha sissi tem feito um esforço enorme pra tentar me fazer ver como os meus pré-conceitos podem ir ao chão. Ditto.



Da porta

Ela, parada na portaria do prédio, tem dois cachorrinhos peludos e fofos por companheiros. Olha para a rua com olhar vago, como quem espera a chegada de algo ou de alguém. Isso ali na São Mateus, pleno sábado, depois do pacote natação-velhinha desbocada-nada de luminária.

Eles? Com o seu pelinho cinza, olham na mesma direção que ela. Mas a cara deles não é de espera, é de plaquinha. Com os seguintes dizeres: “não nos pergunte; estamos aqui só de acompanhantes”.



Sonho esdrúxulo

Ia eu correndo-correndinho para o ensaio de um jogral, uma apresentação que venho preparando. Vamos apresentar o Carme Secular de Horácio, na tradução do Picot, na Semana de Estudos Clássicos. Daí que eu entro na Faculdade de Letras e vejo aquele senhor, um especialista em Horácio que eu nunca conheci, parado lá. Aparentemente, eu o conhecia, no sonho; e ele a mim. Ele tinha uma barba grande e desgrenhada, de pêlos pretinhos, apesar da sua avançada idade; usava suspensórios, uma boina e óculos fundo-de-garrafa. Nas pernas, aquelas placas de ferro de quem sofreu acidente de moto (não que o dele tenha sido um acidente de moto) e as muletas daquelas que têm um anel que fica em volta do braço e um cabinho pra segurar com a mão.

“Olá, professor! Como vai? O que faz o senhor por aqui?”, pergunto eu, seminervoso diante daquela presença tão respeitável.

“Vim assistir ao seu ensaio!”, ele me respondeu, com um sorrisinho simpático.

Gelei geral. Daí eu subi as escadas da FALE, na frente dele, meio que correndo, acho que para avisar aos alunos, antes do início do ensaio, da ilustre presença. Afe!... só faltava fazermos feio diante dele, o Prof. ... .

Portas das salas fechadas. Ai, que ódio.

Daí, sei lá por que cargas dágua, o ensaio vai ser no auditório. (Aliás, na vida real, é lá que ele tem sido sempre de sexta.) Na descida das escadas, o Prof. ... passa a minha frente, ou eu o deixo ir na frente, nem sei. Só sei que, ato contínuo, ele levou um tombo e está estatelado e estrelado no chão. Mas não tropeçou, não: caiu num escorregão e com as costas para baixo. Eu tento ajudar e só faço besteira: minha mão fica presa nos ferros da perna dele e eu já não sei o que fazer.

Acho que foi então que acordei.



Minha vovucha, eu e os velhinhos

E hoje então eu estava pensando nos velhinhos desconhecidos do mundo e no meu amor por eles, sabe? Eu me lembro do ponto em que essa história começou: com os professores da dita “antiga geração”, lá na USP. Uma gente linda e sorridente, de olhos claros e atividade intensa. Penso em dois nomes especificamente. Nada difícil de adivinhar.

E ainda agora eu acabei almoçando com o dentista mais lindo de Juiz de Fora, com quem esbarrei no restaurante; falando dos avozinhos, me dei conta de que acho que vou ao Rio de novo, no próximo feriado, só pra ver a minha vovucha. Ela tá dodói.

“Das duas últimas vezes em que eu estive lá, ela estava bem e sóbria. Daí ela ficou na cama, deitada, de onde ela quase não sai mais, e eu sentado do lado, conversando com ela por horas e horas. Quando eu era um pré-adolescente, aí pelos meus doze anos, a gente fazia o mesmo, mas de pé, na janela, vendo a chuva cair e sentindo o cheiro de terra molhada.”

“Uma bela relação”, disse o dentista mais lindo de Juiz de Fora.

É. Uma linda relação.

sábado, julho 24, 2010

São Paulo

E então hoje eu parto pra lá. De volta, por alguns dias, à terrinha da garoa, o lugar com a maior concentração de amigos da minha vida por metro quadrado.

Meu nome? Ansiedade. Não consegui fazer nada o dia inteiro, e é difícil acreditar como alguém pode querer tanto fazer uma viagem de oito horas de ônibus.

Adoro o Dramin... Thanks, Flávia.

=)

sexta-feira, julho 16, 2010

Rio de Janeiro


“God places the solitary in families,” comforting words from the Bible... families, by blood, by obligation, by necessity, by desire... and sometimes, if one is very lucky, by love. [...] the echoes never leaving one’s heart, the memories carved like painted ivory, from a single tusk, delicately colored in brilliant hues, and softer ones, faded sometimes, so dim as to be almost forgotten… and yet never to be totally forgotten or left behind. The place one begins, and hopes to end…


Danielle Steel, in Family Album

quinta-feira, junho 17, 2010



Triste

triste não é saber que não há

nem que não haverá

triste é saber que nunca houve

e que agora para todo o nunca

choraremos



- Horácio Dídimo




sábado, maio 08, 2010


Uma Vênus de Ovídio



Eu tenho este livrinho que se chama Ovid in English, uma coletânea, preparada por certo Christopher Martin, de diversos trechos, de diversas épocas, de diversos livros do diverso Ovídio. E achei esta tradução dum trechinho inicial do IV canto dos Fastos (4.91-113) nele.




In praise of Venus (tradução de 1925),
by F. A. Wright (1869-1946)

Venus is queen: to her is given
Power over land and sea and heaven.
To her the gods her lineage owe
And we all things on earth that grow.
'Twas she who peopled wood and grove.
'Twas she who taught the world to love.

Ram against ram his horn will press,
Yet woo the sheep with soft caress;
The bull, whom all the forest fears,
10 Complacent to his cow appears;
And e'en the fish beneath the sea
Acknowledge Venus' mastery.

Venus is queen: she did remove
Men's savage ways and gave them love.
A thousand arts from her derive;
For when to please a maid men strive
They have to show craftsman's skill
If they would mould her to their will.

A lover first, his suit refused,
20 The power of plaintive music used.
A lover first on some stern maid
The pleader's cunning art essayed.
It is with Venus songs commence,
And Venus lends us eloquence.




E o belo original:

illa quidem totum dignissima temperat orbem,
illa tenet nullo regna minora deo,
iuraque dat caelo, terrae, natalibus undis,
perque suos initus continet omne genus.
95 illa deos omnes (longum est numerare) creavit,
illa satis causas arboribusque dedit,
illa rudes animos hominum contraxit in unum,
et docuit iungi cum pare quemque sua.
quid genus omne creat volucrum, nisi blanda voluptas?
100 nec coeant pecudes, si levis absit amor.
cum mare trux aries cornu decertat, at idem
frontem dilectae laedere parcit ovis;
deposita sequitur taurus feritate iuvencam,
quem toti saltus, quem nemus omne tremit;
105 vis eadem lato quodcumque sub aequore vivit
servat, et innumeris piscibus implet aquas.
prima feros habitus homini detraxit: ab illa
venerunt cultus mundaque cura sui.
primus amans carmen vigilatum nocte negata
110 dicitur ad clausas concinuisse fores,
eloquiumque fuit duram exorare puellam,
proque sua causa quisque disertus erat.
mille per hanc artes motae; studioque placendi,
quae latuere prius, multa reperta ferunt.







domingo, abril 25, 2010

Não choro pela morte.
Choro pela dor de quem fica...
E choro também porque,
em algum momento,
por alguma razão,
nesta vida,
é necessário chorar.

quinta-feira, março 25, 2010

Enquanto escovo os dentes

Enquanto escovo os dentes, olho pro teto e vejo, pouco acima da porta, a caixa da campainha. Desço os olhos e enxergo a porta, tão mais alta que eu. Não tão mais alta que eu. Faz alguns anos, eu era uma criança, eu olhava pro teto e pro topo da porta e me impressionava imensamente com a grandeza das coisas.

Eu queria que meu pai me carregasse na corcunda e era feliz quando podia bater o lustre de vime que tínhamos na sala com a minha própria mão. Há pouco tempo, eu fiquei frustradamente chocado, quando, fora da presença do meu pai, falando nele, minha mãe me revelou que ele não tinha mais que um metro e setenta e cinco, por aí. Como é possível?

Faz alguns anos, eu era uma criança, eu via um rapaz no ônibus e, na minha inocência, não o reconhecia como um homem, sabendo que ele era algo de intermediário entre mim e o meu pai, na seqüência do tempo. Eu me lembro de ter pensado muitas vezes nisto – e de tê-lo dito à minha mãe: quanto medo de andar de ônibus sozinho, assim, sem ninguém pra me dizer aonde saltar ou pra puxar a cigarra pra mim. Eu olhava pro futuro com medo da necessidade de ser aquilo que eu inevitavelmente me tornaria, como eu já pressentia.

Faz alguns anos também, eu era ainda uma criança, eu não compreendi o choro da minha mãe quando viu um arranhão cor de rosa na sua geladeira marrom. Todos os móveis da sua cozinha eram marrom, mesmo a mesa dobrável com tampo de azulejos de que a minha memória guarda uma imagem fotográfica. Por baixo do marrom, o zarcão rosa, para evitar a ferrugem, acho, ficou visível em um risco, pouco abaixo da marca, ali do lado do puxador. Aquela foi a primeira mudança de que eu me lembro, eu faria seis anos meses depois. Nos movimentos de sobe e desce dos móveis, na agitação do que vem contra o que vai, um arranhão se fez na porta da geladeira. Quando ela o viu, sentada no chão da cozinha, ela chorou.

Agora, depois de um dia cansado, eu, cansativo, com os músculos tensos e o pensamento ainda em linha de produção, tarde da noite, lavo a louça, e um descuidado copo se lança da minha mão. Em cima de outro, que se quebra. Antes que eu me dê conta do que de fato se passou, eu me sento no chão da cozinha e, em reprodução, compreendo aquele choro que me marcara tanto.

Hoje eu apreendo – e sinto falta da minha infância.

sábado, março 06, 2010

Em Juiz de Fora, numa quinta-feira


1.

Empório do Churrasco

“A melhor lingüiça de Minas”



2.

Mulheres (parte 1)

Depois do recesso, acordei cedinho-cedinho, tomei meus remedinhos matinais, fiz minha devocional, li uns versos e fui encarar o mundo. Pasmem: sem uma camiseta listrada.

Era dia de sessão, e a minha sissicóloga, que é de longe a minha maior ídala em Juiz de Fora, tava lá, linda e loira (na verdade, ela é morena) e disse que eu sou a noiva em fuga.



3.

Meninos (parte 1)

E não é que o menino lindo daquela loja de quadros ou sei-lá-o-quê (acho tudo de um extremíssimo mau gosto) hoje estava na porta quando passei? Pois vi que valeu a pena a espera – grande e largo como todo bom mineiro, nutrido de Sustagen na infância, nada lhe resta senão a glória.



4.

Rua São Mateus

Santo Católico

Sim, uai, porque aqui, ao contrário do que se esperaria, as placas de esquina não trazem o CEP do logradouro (adoro “logradouro”... acho digno) ou o número mais alto e o mais baixo do logradouro. São pequenos drops de cultura. De que outra forma eu saberia que SÃO Mateus era um santo católico?



5.

Mulheres (conclusão)

O nome dela é o de uma deusa; eu hei-de (com hífen) chamá-la Diva. (Pra manter a tradição de não dar o nome que as pessoas de fato têm, como sempre se fez neste blogue.) Hoje foi a minha terceira aula com ela. De natação. Só tenho aula com ela quando a minha instrutora está de férias ou afim. Não há um movimento que lhe escape, à Diva, ainda que, na maior parte do tempo, ela esteja à beira da piscina com olhos de não-te-vejo-nem-te-observo. Lá pelas tantas:

“E como estão as palestras?”

“Ques palestras?”, pergunto eu.

“Você não afixou o cartaz duma palestra sua no mural daquela vez?”

Explico que a palestra não era minha. Só tinha ocorrido na FALE, lá onde eu trabalho.

“Se tiver algo de sábado [o de é por minha conta; essa regência é de São Paulo; nem sei como se diz por aqui], me avisa. Durante a semana não dá para nada. Tou precisando de umas coisas assim, ventilar e ver coisa nova, um pouco de cultura.”

Eu fiquei feliz.

Um, pela iniciativa. Mas a sua postura de professora já deixava antever que seria, assim... uma pessoa interessada no mundo, com vontade de veraprender (sem hífen, que a reforma ortográfica fez ele [ou fê-lo, mais pomposo] cair _ ).

Dois, pela lembrança. Quem diria que ela sabia que eu tinha sido o responsável pelo tal cartaz? E que memória! (“Eu me lembro do que é importante”, como diria o Normann.)

Pois me lembrei da Cláudia, aquela professora de espanhol do Instituto Cervantes, de longe a melhor que já tive nessa língua (também conhecida como “português de comédia”), que só soube que ela era a melhor professora de espanhol da face da Terra quando eu lhe contei. E por intermédio de um aluno meu, que eu já não era mais aluno dela, mas ele era.

E na semana que vem todos os meus treinos serão com a Diva. Já estudei horários e me programei todo. Estarei lá, linda, loira (ainda que morena) e positiva.



6.

Meninos (conclusão)

De onde sai tanto moreno de olhos claros, gente?

...

Daí eu cortei o cabelo, fiz a barba. E me preparei um litro de leite com chocolate no meu supercopo do Batman. E escrevi estas besteiras.



Epílogo.

Estas são de uma quinta que era terça-feira. Alameda, que eu fui ver o Jude Law e a Glória Pires. Muitas perguntas. Duas com respostas.

a) Como um cavalo consegue cagar a extensão da Morais e Castro com tanta eficiência que, passadas as horas do Sol mais Sol e emplastrada a bosta no asfalto, mesmo à meia-noite a essência merdíflua soa no ar?

b) Quem ensinou essa gente a conversar o tempo todo no cinema, gritar “Lindo” pro Downey Jr. sem camisa e “Linda” pra Mc Adams?

c) Por que ela é tão bonita e bem-vestida, mas não sabe que a minha poltrona não é o escabelo de diante da poltrona da sala de tevê da casa dela?

d) E esse Robin Hood que vem aí, minha gente? O Crowe ta meio velhote, não?

e) Na ida: “Papai vai comer a sua patinha todinha, você vai ver”. O Papai? Um senhor de uns cinqüenta (com duas tremas!) anos. A filha? Uma totó dessas de madame, púdol talvez, dessas que andam na moda aqui em Juiz de Fora, cidade da caquinha de totó na calçada, cacona de pocotó no asfalto.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010


Chorar o leite derramado não é tão inútil quanto se diz, é de alguma maneira instrutivo porque nos mostra a verdadeira dimensão da frivolidade de certos procedimentos humanos, porquanto se o leite se derramou, derramado está e só se há que limpá-lo, e se abel foi morto de morte malvada é porque alguém lhe tirou a vida. Reflectir enquanto a chuva nos vem caindo em cima não é certamente a coisa mais cómoda do mundo, e foi talvez por isso que de um momento para o outro deixou de chover, para que caim pudesse pensar à vontade, seguir livremente o curso do seu pensamento até ver aonde ele o levaria.

josé saramago, in caim


segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Le retour





C'était le risque, celui d'être mené par le dieu plus loin que je ne voulais.
Mais il fallait courir ce risque pour connaître l'amour incandescent qui nous était promis.

Eis que me aflige novamente este enjôo que já dura uma semana. Eu me pergunto se eu estaria grávido? Se estivesse, não seria de todo mau: o pai estará de volta em menos de uma semana.

Avec toi, on croit aux dieux, à ceux qui éclairent et à ceux qui transpercent. On croit au ciel, aux astres, à la vie, à la musique, à l'amour à un degré inépuisable. Toujours tu es celle qui s'élance dans l'espérance de l'infini et qui nous entraîne grâce à tes yeux si beaux

Duvido que quisesse assumir o bebê, mas eu estaria feliz com a presença de uma criança na minha vida a estas alturas. Comprimo o travesseiro mágico contra a barriga, segredo de toda mulher que sofre de cólica, o ventre se esquenta, o enjôo me dá uns minutos de trégua. É uma guerra. Qual será o mal que desta vez me aflige?

je parle, je parle, et tu te tais. Pourtant nous parlons puisque je me saisis de ton silence et parviens parfois à lui donner un sens. Je parle, je vais, je viens, je tourne autour de toi, je me fâche, j'éclate de rire tandis que toi,


Trechos em francês de Henry Bauchau, in Antigone

quinta-feira, janeiro 21, 2010

E amanhã ela se vai


Porque llama la abuelita y lo bueno se acaba...


Hoy en mi ventana brilla el sol
Y el corazón se pone triste
Contemplando la ciudad
Porque te vas...

[...]

junto a la estación lloraré,
igual que un niño

Porque te vas, porque te vas,
porque te vas, porque te vas


Bajo la penumbra de un farol
se dormirán
Todas las cosas que quedaron por decir
se dormirán
Junto a las manillas de un reloj
despejarán
Todas las horas que quedaron por vivir
esperarán..

[...]

junto a la estación lloraré,
igual que un niño

Porque te vas, porque te vas,
porque te vas, porque te vas

sexta-feira, janeiro 01, 2010

Balanço

Depending on how you see a thing
The ship is free, or is it sinking
Depending on how you see it
The song is over or you keep it
Depending on how you see the times
We’re wasting time or in a moving line

Deee Lite, Good beat




Tava dizendo outro dia: no que diz respeito a relacionamentos, devoposso me orgulhar do progresso pessoal, individual, único e intransferível que venho fazendo. Sim, porque o meu último relacionamento (com o Pirata-Xã) foi de longe o melhor que já tive.

No começo do ano passado, depois da devassa que foi a passagem dO Sonho pela minha vida, não tinha nenhuma vontade de viver. Eu era só depressão e desalento. Aí apareceu o Mighty, um mocinho cheio de vontade de viver a sua adolescência aos vinte e cinco anos. Foi uma passagem importante.

E depois veio o Pirata-Xã. Dele eu retomei o hábito da leitura, o devorador desejo de viver e me alimentar da vida alheia que está nos livros. Saudabilíssimo. E foi então que, pela primeira vez, consegui alcançar uma meta que eu me tinha proposto fazia tempos: vinte e quatro livros lidos em um ano!

Título, autor, data de conclusão

1/ A escrava Isaura, Bernardo Guimarães, 19/1

2/ Doença como metáfora / AIDS e suas metáforas, Susan Sontag, 25/6

3/ Comentários sobre a Guerra Gálica, Júlio César (trad. Francisco S. Reis), 26/6

4/ O vendedor de passados, José Eduardo Agualusa, 5/9

5/ Planejamento de atividades de leitura para aulas de idiomas, Thomas S. C. Farrel, 14/9

6/ Três histórias no internato, Autran Dourado, 15/9

7/ Bom dia camaradas, Ondjaki, 18/9

8/ Estratégias de estudo: guia para professores, Sara Cotterall e Hugo Reinders, 19/9

9/ Solidão Solitude, Autran Dourado, 25/9

10/ Uma poética de romance, Autran Dourado, 25/9

11/A vida verdadeira de Domingos Xavier, José Luandino Vieira, 26/9

12/ Texaco, Patrick Chamoiseau, 6/10

13/ Alguém que anda por aí, Julio Cortazar, 14/10

14/ Onde estará Dulce Veiga?, Caio Fernando Abreu, 18/10

15/ Eles eram muitos cavalos, Luiz Ruffato, 22/10

16/ Amar, verbo intransitivo, Mário de Andrade, 25/10

17/ Chronique des sept misères, Patrick Chamoiseau, 21/11

18/ A Arte de Amar, Ovídio, 23/11

18’/ Os Sertões, Euclides da Cunha [na verdade: O Homem, IV e V], 28/11

18”/ Judas-Ashverus, À margem da História, Euclides da Cunha, 28/11

19/ Terra Sonâmbula, Mia Couto, 5/12

20/ Arte Poética, Horácio (trad. Dante Tringali), 14/12

21/ O Guarani, José de Alencar (o José de Alencar do ano!), 19/12

22/ A Personagem, Beth Brait, 24/12

23/ Nove noites, Bernardo Carvalho, 26/12 (às 3h32min da madrugada!)

24/ Eneida, Virgílio (trad. Carlos Alberto Nunes), 31/12