Há
em Un balcon en forêt, de J. Gracq,
uma passagem que deixa a crítica muito intrigada. O aspirante Grange, em
serviço perto da fronteira belga durante a “maldita guerra”, recusa uma
transferência que o tiraria da linha de frente de combate. Ora, nos diz o
texto, a recusa de Grange não se explica nem por “uma questão de honra”, nem
pelo desejo de ficar perto de Mona, sua jovem amante. Se Grange se recusa a
deixar a fortaleza de Ardennes, da qual ele tem o comando, é porque se sente “respirar
como nunca antes”. Como explicar que uma situação tão desconfortável (a
expectativa do efetivo início da guerra) permita “respirar melhor”? Em que a perspectiva de um acontecimento penoso pode ser uma condição de felicidade?
Encontramos uma explicação em um dos primeiros textos de Gracq, Un Beau ténébreux, bem anterior ao Balcon en forêt. O personagem Allan se
dirige nos seguintes termos ao narrador, Gérard:
A
verdade é triste, como você bem sabe. Ela desilude porque restringe. [...] Ela
é pobre, ela desmobila e despoja. Mas quando uma verdade se aproxima [...]
mesmo ainda apenas pressentida, faz-se na alma dilatada para recebê-la um
desabrochar amoroso [...].
Se
a felicidade está na “aproximação” do acontecimento (e não no contato com ele),
é porque a expectativa permite a plena presença do mundo. A perspectiva de um
acontecimento temido, pela intensidade que ela confere aos instantes que o
precedem, reforça a relação de intimidade que nos une ao todo.
Vincent Jouve, in Por que estudar literatura?,
trad. Marcos Bagno e
Marcos Marcionilo
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