terça-feira, junho 24, 2008

Feijão preto

suis miserum me cepit ocellis
Propércio, I, 1

com os seus olhinhos me capturou... pobre de mim!



"Você anda assim, ó."

Daí eu imitei o seu jeito solto de andar, com os braços balançando, peito aberto, uma forma desleixada que, como todo o resto, era puro encanto. Os olhos azuizes me olham, a risada conhecida me invade os ouvidos e aquece o corpo, para em seguida eu ouvir algo que revelava um incômodo.

"Mas eu estou só comentando, não é uma crítica."

Novo sorriso dos olhos azuizes.

É que ele não sabia que os apaixonados observam.
Que observam porque namoram,
porque se enamoram,
porque veneram.
Filmam e fotografam com os olhos,
arquivam as sensações miúdas
para depois saboreá-las no silêncio da noite só.


E foi observando detalhes que eu soube
(e nunca esqueci)
que ele prefere feijão preto.

2 comentários:

Clara Gomes disse...

*a joaninha passou por aqui;
pousou
e repousou
nas suas palavras.

bjo!

Luana Margarida disse...
Este comentário foi removido pelo autor.