(Figura postada aos 16 de maio de 2012.)
Ai, meu Deus, não é possível. Será que ele vai ficar ali muito tempo? Fico me perguntando o que teria sido se eu tivesse descido do ônibus, não o tivesse visto e tivesse simplesmente feito o meu caminho até ao final da rua, até ao portão da Pousada. Ai, melhor nem pensar.
Como é mesmo que eu faria? Ah, tá. Lembrei: trepo naquela madeira, subo pela escadinha que fazem as linhas de farpado da cerca, subo na marquise. E depois? Fico lá em cima eternamente. Ai, te acalma, bi, vai dar tudo certo. Ele nem te viu aí. Fica quietinha, nem respira, ele não te viu. Ai, meu Deus, ele me viu.
Cristo Jesus! ele tá vindo pra cá? ai, Pai, ele tá vindo pra cá!
Ai, merda, solta. Puts, se meu pé ficasse preso naquela farpa do arame eu nem sei o que tinha sido. Se bem que... ai, inferno, será que ele vai ficar ali latindo até quando?
Um carro. E eu faço o quê? Aceno, SOS em código Morse? Peço a Deus a morte, é isso que eu faço. O povo é foda mesmo. Agora vê... eu aqui em cima, trepado, o cara passa de carro, põe meia cabeça pra fora como quem diz que você ta fazendo aí?, não pergunta, não dá meia parada, vai-se embora. E eu aqui nessa situação. Nessa roça. Quanto de Juiz de Fora será que é roça isolada igual a isso aqui? Jesus, se eu vier pra cá, vou querer morar no Centro. Lá é tão bonitinho.
Mais um? Arrarrá. Vou morrer aqui. Não é possível. Que é que eu faço? Descer daqui nem a pau. Que horas são, hein? Jesus, passa da meia-noite. E a prova é amanhã. Que lindo. Plena véspera da prova teórica do concurso, e eu aqui, linda e loira, em cima do telhado dum ponto de ônibus. Pensa, Everton, o que você faz, o que qualquer um faria num momento de total desespero?
(Pega o celular.)
“Alô, Mãe?”
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