Intocável, na sua calça jeans de lycra, lá ia ela, louca como sempre, deitadinha, tranqüilinha, como se nada estivesse acontecendo, como se nem fosse com ela. Do lado de fora lá fora, uó uó uó da sirene. A última vez que tinha ouvido aqueles barulhos tinha sido depois do seu último afogamento, quinze minutos nágua, e o resgate, lembrava bem, feito por um surfista dos braços abastados.
E foi parar na Santa Casa, horas e horas de soro. Desta vez acompanhada dum moreno.
Tudo começou assim: vamos fazer um exame, vamos tirar líquor da sua espinha. Pra quê? Uai, como sempre, pra ver se ela se abalava, devia ser. Pra que mais se fazem esses exames absurdos, minha gente? Me explica pra quê-por quê alguém vai enfiar uma agulha longa na sua espinha e tirar a agüinha que está quietinha lá, segurando o cérebro da pessoa boiando lá no topo? Só pode ser teste de paciência. Esses médicos têm formas e mais formas de testar a paciência do paciente.
“Se a sua cabeça doer muito amanhã, você vai pro Pronto Socorro e diz que fez extração de líquor. Eles saberão o que fazer: vão te pôr no soro”, disse a médica. Isso na quarta. Aí na quinta-ontem, a cabeça doía, mas ela foi pra cama, que ela não era boba nem nada. Queria era dar a sua aula de Latim e ser feliz no dia seguinte.
Mas no dia seguinte, depois do almoço, depois duma caminhadinha no Sol e do balanço chique-chique do ônibus até chegar no câmpus, a cabeça resolveu fazer tóinho-nhóim e simplesmente dilatar até quase explodir. E pensar que hoje era o dia dos particípios... Quanta frustração cabe numa vida, meu Deus.
Um comentário:
boa kkk
Postar um comentário