quarta-feira, setembro 23, 2009

ele estava num de seus dias opacos,
inteiramente impermeável à clareza de minhas idéias.
Se ele estivesse desanuviado, teria grunhido
como faz quando percebe tudo --
um grunhido impreciso,
que nunca pude saber
se é articulado nos lábios, no nariz, nos dentes ou na garganta.
Autran Dourado, A glória do ofício, Solidão Solitude



Mas hoje não. Não me lembro de uma noite em claro desde São Paulo. Vejam aí. Eu postei. E agora me vejo aqui, no centro deste colchão, cercado de silêncio por todos os lados. Aliás, por todos os lados não: somente pelos de fora.


Faz o quê, meu Deus? duas semanas? É isso. Três, no máximo. Escrevi o email. E eu dizia como vai você, e como vão as suas coisas, e como estão os seus sonhos. Sem resposta. Mas um comentário: alerta vermelho, Everton, eu não tenho coração. E eu vaguei dias e dias pelas relojoarias de Juiz de Fora em busca de um. Sem sucesso. Caso perdido.


O fato é que as pessoas não estão acostumadas a serem queridas, não conseguem compreender ou aceitar que alguém se preocupe com elas, que alguém pense nelas, que alguém tente, debalde e ingenuamente, ajudá-las com horas de um pensamento carinhoso, de sorriso nos lábios, em que a imagem delas, felizes e completas na sua realização, seja o suficiente. Que ridículo. Eu não passo de um alguém, injusto e (inútil) escrevedor de emails babacas. Não poderei nunca ser o Mágico de Oz.

Juiz de Fora, dia 21 de agosto de 2009.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que desperdício...