Queria escrever este texto em inglês. Ele ia começar assim bem chique: Only twice did I... Adoro inversões. Mas vou me poupar o esforço. E os vexames. Vou fazer assim: conto duas lembranças da infância e me norteio por elas para chegar a esse ponto cotidiano. Primeira memória, falo da minha situação habitacional atual, segunda memória, falo do que só fiz duas vezes. Depois conto quem espero. Com essa estrutura bonitinha, quem sabe as idéias arrumadas não me ajudam a selecionar com critério um belo vocabulário, e vocês não dão a sorte de um texto gostoso de ler? Às vezes rola.
Eu devia ter uns dezessete ou dezoito anos, morava ainda no Rio, já não via muita tevê por aquela época, mas estava na sala, e estava passando algo como Barrados no Baile ou qualquer coisa que o valha. Se não me engano, era uma cena de discussão que se encerrava com alguém jogando outro alguém de uma sacada, e o outro alguém caía numa piscina, no térreo. Eu fiquei chocado. E frustrado: eu realmente queria viver a vida da minha idade, com problemas e convivências da minha idade. Até antes de vir para São Paulo, ouvi muitas vezes a ladainha do "nossa, você parece ser muito mais velho!". Bem, esse comentário se relacionava à minha forma de pensar, de me comportar e de falar. E também era influenciado pelas companhias de que eu me cercava, sempre pessoas mais velhas.
Pois não demorou muito para que aquele wish upon a star se tornasse realidade. A vida em São Paulo, no CRUSP (os dormitórios estudantis da Universidade de São Paulo, onde morei por aproximadamente sete anos), me fez viver em meio a pessoas da minha idade ou mais jovens, e em meio aos seus problemas corriqueiramente repetitivos. Hoje eu moro num apartamento bem grande, de três quartos, que eu divido com um dos meus melhores amigos, o Fá, e um colombiano mequetrefe. Ai, minha gente, mequetrefe mesmo... sinto muito. Porque eu gosto de quem eu gosto, e ninguém tem nada a ver com isso.
Somente duas vezes eu limpei uma casa inteira sozinho. Detesto faxina. Mil vezes chamar uma faxineira que ter que ficar passando pano no chão e tirando o pó dos móveis e afins. Good grief... é uma trabalheira... Hoje-domingo foi a segunda vez. Daí que estou tão blerguitemente cansado que nem vou pra hidroginástica nenhuma. A primeira vez foi no mês passado, faz algumas semanas, para a visita do Pé de Feijão. Limpei e tirei pó como poucos, como poucas vezes. Ele tem uns probleminhas respiratórios, e eu resolvi que poeira, no meu quarto, não era uma possibilidade.
engraçadinhas as imagens que os povos fazem, nas suas línguas, quando desenham conceitos: o nosso cotão é o "coelhinho de poeira", em inglês, dustbunny (esta foi o Pirata quem me ensinou... lindinho) e, em francês, um "carneirinho", um mouton
Também, estava sozinho no apartamento fazia uns quatro dias; a limpeza seria minha, e também seria eu quem a desfrutaria. Mas o Pé de Feijão acabou não vindo; e o colombiano me chega com um dos seus dois namorados atuais (não se espantem! quando eu cheguei aqui, ele tinha três fixos e, às quartas, chegava sempre com um desconhecido, que passava a noite... adoro fofoca). Cozinhou lula, fez barulho até não poder mais, deixou a sala e a cozinha um lixo. "Nunca mais", eu me disse.
Quando morávamos em Rocha Miranda, um lugar de que ainda guardo muitas lembranças, inclusive a de um pesadelo que se reiterava na minha primeira infância e de que a minha mãe deu cabo com perícia (outra hora conto), mômi-mômis limpava a casa uma vez por dia, neurótica que era com essas coisas. Uma das lembranças que tenho é do Pinho Sol. A embalagem, o esbranquiçado feito nuvem na água do balde, o cheirinho no ar.
E ela chega hoje, a minha Mica. Então o apartamento precisava ser limpo. Daí eu fui ao mercado, comprei desodorante de vaso Glade, sabor bosque de pinho, e Pinho Sol. E limpei a casa toda.
Eis a fonte da imagem.
Eu devia ter uns dezessete ou dezoito anos, morava ainda no Rio, já não via muita tevê por aquela época, mas estava na sala, e estava passando algo como Barrados no Baile ou qualquer coisa que o valha. Se não me engano, era uma cena de discussão que se encerrava com alguém jogando outro alguém de uma sacada, e o outro alguém caía numa piscina, no térreo. Eu fiquei chocado. E frustrado: eu realmente queria viver a vida da minha idade, com problemas e convivências da minha idade. Até antes de vir para São Paulo, ouvi muitas vezes a ladainha do "nossa, você parece ser muito mais velho!". Bem, esse comentário se relacionava à minha forma de pensar, de me comportar e de falar. E também era influenciado pelas companhias de que eu me cercava, sempre pessoas mais velhas.
Pois não demorou muito para que aquele wish upon a star se tornasse realidade. A vida em São Paulo, no CRUSP (os dormitórios estudantis da Universidade de São Paulo, onde morei por aproximadamente sete anos), me fez viver em meio a pessoas da minha idade ou mais jovens, e em meio aos seus problemas corriqueiramente repetitivos. Hoje eu moro num apartamento bem grande, de três quartos, que eu divido com um dos meus melhores amigos, o Fá, e um colombiano mequetrefe. Ai, minha gente, mequetrefe mesmo... sinto muito. Porque eu gosto de quem eu gosto, e ninguém tem nada a ver com isso.
Somente duas vezes eu limpei uma casa inteira sozinho. Detesto faxina. Mil vezes chamar uma faxineira que ter que ficar passando pano no chão e tirando o pó dos móveis e afins. Good grief... é uma trabalheira... Hoje-domingo foi a segunda vez. Daí que estou tão blerguitemente cansado que nem vou pra hidroginástica nenhuma. A primeira vez foi no mês passado, faz algumas semanas, para a visita do Pé de Feijão. Limpei e tirei pó como poucos, como poucas vezes. Ele tem uns probleminhas respiratórios, e eu resolvi que poeira, no meu quarto, não era uma possibilidade.
engraçadinhas as imagens que os povos fazem, nas suas línguas, quando desenham conceitos: o nosso cotão é o "coelhinho de poeira", em inglês, dustbunny (esta foi o Pirata quem me ensinou... lindinho) e, em francês, um "carneirinho", um mouton
Também, estava sozinho no apartamento fazia uns quatro dias; a limpeza seria minha, e também seria eu quem a desfrutaria. Mas o Pé de Feijão acabou não vindo; e o colombiano me chega com um dos seus dois namorados atuais (não se espantem! quando eu cheguei aqui, ele tinha três fixos e, às quartas, chegava sempre com um desconhecido, que passava a noite... adoro fofoca). Cozinhou lula, fez barulho até não poder mais, deixou a sala e a cozinha um lixo. "Nunca mais", eu me disse.
Quando morávamos em Rocha Miranda, um lugar de que ainda guardo muitas lembranças, inclusive a de um pesadelo que se reiterava na minha primeira infância e de que a minha mãe deu cabo com perícia (outra hora conto), mômi-mômis limpava a casa uma vez por dia, neurótica que era com essas coisas. Uma das lembranças que tenho é do Pinho Sol. A embalagem, o esbranquiçado feito nuvem na água do balde, o cheirinho no ar.
E ela chega hoje, a minha Mica. Então o apartamento precisava ser limpo. Daí eu fui ao mercado, comprei desodorante de vaso Glade, sabor bosque de pinho, e Pinho Sol. E limpei a casa toda.
Eis a fonte da imagem.
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