sexta-feira, junho 05, 2009

Mas isso foi...

Durante muito tempo eu quis escrever esta postagem. Não o fiz antes porque temia expor alguém(ns), mas hoje me parece que não mais.

Este mês eu farei quatro postagens. Tenho-as delineadas e delimitadas na minha cabecinha insana. Tenho dito a alguns amigos que "eu guardo um segredo (acho)", frase que venho utilizando como subnick no msn. Hoje cheguei à conclusão de que, sim, eu guardo um segredo. E me refiro a "segredo" numa acepção muito própria: eu só usei esta palavra, aqui neste blogue, uma vez, no ano passado. É um segredo como o que me foi contado, àquela época, que eu descobri que agora guardo.

Mudando de assunto, não é novidade para ninguém que eu amo Porto Alegre. Desde 2006, quando descobri aquele paraíso, faço uma viagem àquela cidade ao menos uma vez por ano.

("Qual a relação entre tudo isso, Everton?" -- Bem, hoje falo de exposição, segredo, ano passado, Porto Alegre... sei lá. Ao final das quatro ditas postagens, tudo estará claro. Além disso, só fiz tantas postagens num mês no ano passado, quando estava, justamente, em Porto Alegre.)

Em 2006, durante a minha primeira viagem a Porto Alegre, uma propaganda dessas de cartaz grandão, colada na janela traseira dos ônibus, me chamou muito a atenção... Não era para menos: um homem lindo, com um corpo divinamente esculpido, à direita, estava cercado por uma espiral de arame farpado. (Procurei no Google imagens o tal cartaz, mas nem consegui achar... Se alguém souber onde encontrá-lo, por favor, depois me conta.) Enfim, à esquerda, lê-se um texto: você ainda isola os soropositivos? A idéia, clara, era mostrar que o preconceito não está com nada, pois não se sabe, de fato, quem está infectado com o vírus. Quem imaginaria que aquele modelo lindo era soropositivo? E quem deixaria de amar aquela imagem linda depois da descoberta?

Num país como o nosso, em que o conhecimento adquirido não é necessariamente conhecimento divulgado, nem (muito menos) preconceito vencido, seria importante que quem conhece as coisas e causas abrisse a boca a falar. Daí teve essa noite, em que uns amigos conversavam na sala do meu apartamento, e um deles fala do seu pavor de pegar doenças e de como se protegia no sexo, etc e tals. Dois dos amigos que discutiam na sala eram biomédicos. De repente, sai o assunto da AIDS, do HIV, dos soropositivos...

"Ai, eu não ficaria com um soropositivo!"
"Nem eu!"
Saio eu do quarto: "Não? Eu sim. Eu me casaria com um. A grande paixão da minha vida é um rapaz soropositivo".

Choque. Bem, gente... Se todos estão dispostos a fazer sexo somente com camisinha, se de fato (será?) é isso que fazem... (Ouvi mesmo um desses amigos uma vez comentar que era só levar um pedacinho de PVC sempre na bolsa, pro caso dum sexo oral pintar no meio do dia, do nada... blá-blá-blá...) Que diferença faz fazer sexo com um soropositivo ou com um soronegativo? Enfim... Achei tudo muito preconceituoso, muito sem-noção... e vinha de quem tem, ex cathedra, a informação e o conhecimento da coisa.

Daí, em 2008, pouco depois de me apaixonar pelo tal soropositivo, veio-me a visita anual à Porto Alegre. Recebi, pelas minhas andanças, um panfletinho que trouxe para mostrar a ele e que até hoje guardo comigo (também não consegui achar uma imagem dele no Google, mas, no meio das minhas buscas, achei um videozinho que o valha, bem aqui). Tratava de uma campanha para orientar casais sorodiscordantes, para que o relacionamento pudesse fluir com a facilidade que, em princípio, o conhecimento e a (in)formação devem proporcionar. Um raio de esperança: talvez o moço por quem eu era (ou sou?) apaixonado me aceitasse, soronegativo.

Mas isso foi naquela época, quando eu só pensava nele.
Mas isso foi naquela cidade, quando eu estava em Porto Alegre.

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