quarta-feira, setembro 24, 2008

Notícias de eu, em POA





Aux deux extrémités de la vie,
avec trop ou trop peu de sensibilité,
on ne s'expose pas avec simplicité
à sentir le juste effet des choses,
à éprouver la véritable sensation
qu'elles doivent donner.

Stendhal,
in
De l'amour






Ontem eu matei uma mosca. Cidades quentes sempre têm moscas, é impressionante. Entrei no quarto, a maldita da faxineira tinha deixado a janela aberta. Duas moscas (medônhas) no quarto. Uma delas parou na porta. Havaianas, ixipléxite!, sanguinho, papel higiênico. Já não se pode dizer que eu sou tão inofensivo que nem sequer a uma mosca mate. Não se enganem.

Sempre fui uma pessoa de muitas paixões. Então eu estive apaixonadíssimo por esse moço do candomblé. Vou chamá-lo Pé-de-Feijão, roubando o apelido que lhe deu um judeu que conhecíamos em comum. Não o Judeu de D'us dos olhos azuizes que gostava de feijão preto (ouço dizer que ele anda em sérios apuros), mas um outro judeu. Um amorzinho de menino, esse outro judeu. Mas eu me apaixonei foi pelo outro, o moço do candomblé.

Olhei para a situação e, sinceramente, eu a achei, no mínimo, ridícula. Uma pessoa lamentavelmente preconceituosa como eu, com a criação evangélica, cristã e cheeeeeia de culpa como a minha... namorar alguém de uma religião afro-brasileira? Ixe... O medo que eu tenho daqueles batuques e transes... era um negócio fadado a dar errado. O que foi uma pena, porque eu realmente me encantei com o moço. Ele me esqueceu rápido, e até aí nada de novo, mas eu guardei o amarelo do trigo sob o Sol.

Daí que, na segunda-feira, na UFRGS, quando me apresentei, entrou um moço no auditório que era a cara do Pé-de-Feijão. Eu olhava para ele e sorria. Ele nem nunca viu, e nem era essa a intenção. Feliz daquele moço que, sem o saber, ganhou a simpatia de uma das pessoas mais azedas que eu conheço, sem sequer um esforço. Eu olhava para ele e me perguntava, com insistência: Como será que vai o Pé-de-Feijão?

O mais estranho, e aqui encerro a história, foi ir ontem à uma maravilhosa piteçaria que descobri na Cidade Baixa, o bairro guei por excelência em Porto Alegre, pelo que me dizem, para ver outro semi-sósia do Pé-de-Feijão. É que há trigos que se trituram facilmente; e outros que cintilam com enorme brilho às vezes mesmo sem raios de Sol, na escuridão.

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