Crimine quo merui, iuuenis placidissime diuum,
Quoue errore miser, donuis ut solus egerem,
Somne tuis?
Por que crime mereci, ó jovem mais plácido entre os deuses,
ou por qual erro, pobre de mim, que sozinho fosse privado dos dons
teus, ó Sono?
(Estácio, Silvas, V, 4, 1-3)
Este é um dos meus poemas favoritos de Estácio (ca. 40 – 96 d. C.). Está nas Silvas, uma coletânea de poemas de temas diversos, primorosamente escritos e organizados em cinco livros. Escolhi os dois versos e meio acima como mote (o poema todo está traduzido e publicado por mim e pela Fernanda, no link embaixo deste parágrafo) porque, outra vez, escrevo do auge da minha insônia. São quatro da manhã e o Mário (o meu colchão) me viu revirando o corpo desde a uma. Mas nem vou falar sobre isso. Vou falar sobre o quadrinho.
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Já viram esse quadrinho do Pingüim? É bonitinho, neah? Eu o vi pela terceira vez estes dias, numa página de ternete. Acho-o muito charmoso, mas ele sempre me traz umas perguntas tolas: quem está pronto para ser Pingüim?
Conheci um rapaz, faz algum tempo, com quem vinha teclando fazia um tantinho. Saímos para jantar, acabamos indo à casa dele, onde recebi, goela abaixo, um DVD inteiro da Björk. Não, eu não gosto dela. Não, eu não desgosto dela. O ponto a que quero chegar é outro (“hoje você está digressivo, Teeny Weeny”): sem que eu dissesse nada sobre o que queria ou não, esse Santo rapaz me diz que não dá nenhum passo antes que se sinta totalmente seguro. Risos. Amarelos. E constrangidos. Nós nem sequer ficamos. Nem poderíamos: quem quer se aproximar de quem quer exigir os seus quereres sem querer se entregar? Eu não. Quem fala de vida inteira sem partilhar o primeiro toque?
Antes disso, um casal de amigos indiretos se separara (adoro o mais-que-perfeito simples – acho digno). Indiretos porque um dos moços do casal era amigo daquele que retém, ainda hoje, o título de “o meu melhor amigo”, ainda que eu pouco me reconheça nessa amizade ou no pouco que descubro (des)conhecer desse mesmo amigo ("Tiny Ton, digressivo..."). Fato é que, depois de um ano ou mais de namoro, os meninos se separaram. Eu os havia conhecido sorridentes, um com o outro nos lábios para elogios, um com o outro nos olhos cintilantes. Mas eles se separaram... brutalmente. Um deles traíra. Um deles sofreu. Quando soube, eu chorei. Papo de mulherzinha, diria o Cosmopolitano (e se fosse?). Mas chorei, sim. E não foi pouco: chorei de soluçar. No final de um filme triste, ninguém ia notar. O meu “melhor” se constrangeu, pediu licença e ficou me esperando fora da sala de projeção, de onde saí com a cara inchada de uma semana de choro. Mas eu sou egoísta. Não chorei por eles. O pranto era meu e era por mim, pelo modelo que eu havia perdido, pela esperança que deveria ter sido a última a morrer (é da quinta, neah?).
Que lixo de postagem. Oquei. Vou contar uma boa, one for the road.
Isso começou na minha época de UFRJ. Ela era linda. Era jovem, e todas elas são lindas quando jovens. E tinha um namorado-noivo-marido, eu não sabia ao certo. Ouvia falar. E ouvia falar mal: parece que ele era feio. Gordo e disforme, ouvi dizer. Depois vi os dois juntos. Era perfeito.
Pois ele ganhou uma bolsa de Doutorado na Alemanha. Foi-se. E ela deixou-se ficar. Deixou-se ficar no Goethe, onde ela se matava de estudar a língua bárbara e nórdica. “Se eu acertar onde pôr o verbo, já vou ficar feliz!” (Ouvi isso com tanta freqüência antes de imaginar de que se tratava... e agora sou eu quem estudo as posições na frase alemã. Codeloco.)
E depois também ela se foi. Deixou a faculdade, o emprego, os amigos... e foi atrás do seu Pingüim. E voltou junto com ele, que validou o seu diploma e foi dar aulas numa Universidade Pública no interior de um Estado desse Brasilzão de meu Deus. Uma cidade muito quente, eu ouço dizer. Depois dos extremos de frio e neve da Europa... Há quem saiba ser o Pingüim do outro. Mesmo com tanto calor.
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