Desde uns seis anos de idade, se é que se lembrava bem,
adorava tubarões. Quando procurou explicação pro seu fascínio, só conseguia
visualizar um álbum de capa marrom, com muitas fotos de dinossauros, ainda por
essa idade. Depois, tinha sido ao ler e reler uma tirinha de quadrinhos que
chegara à conclusão de que a paixão infantil por dinossauros e monstros e seres
distantes e grandes tinha desembocado no seu encanto por tubarões. Um pouco antes de se mudar pro Recife, tinha lido, não sem brilho nos olhos, um livro
sobre as expedições de um mergulhador profissional que havia viajado o mundo em
busca de grandes tubarões, para vê-los e documentar em filmes sua existência e magia
subaquática.
Pois nesta manhã de sexta-feira de julho, após remoer questões
de vínculo e de seus questionamentos sobre a morte, saiu da sessão de
terapia como se fosse um dia normal. Pegou o Dois Irmãos e se dirigia ao
trabalho matutino que a esperava em casa, quando pensou quão poético seria
entregar-se a um tubarão na praia, provavelmente deserta naquele dia chuvoso. Mudou de
caminho e foi pra Boa Viagem.
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