sexta-feira, agosto 16, 2013
Por sms
Aviso que o ônibus passou: "Ela não anda, ela não anda...".
Ela, que conhece o código, responde: "Quando chegar, dá um grito".
Eu: "Eu? Maxina. Eu sussuro. I'm a lady".
Ela: "Só se for a Gaga".
Uma boa meia hora depois:
"Dormi e perdi a parada do busum. Applause, please".
sexta-feira, julho 26, 2013
Crônica de um suicídio anunciado
Desde uns seis anos de idade, se é que se lembrava bem,
adorava tubarões. Quando procurou explicação pro seu fascínio, só conseguia
visualizar um álbum de capa marrom, com muitas fotos de dinossauros, ainda por
essa idade. Depois, tinha sido ao ler e reler uma tirinha de quadrinhos que
chegara à conclusão de que a paixão infantil por dinossauros e monstros e seres
distantes e grandes tinha desembocado no seu encanto por tubarões. Um pouco antes de se mudar pro Recife, tinha lido, não sem brilho nos olhos, um livro
sobre as expedições de um mergulhador profissional que havia viajado o mundo em
busca de grandes tubarões, para vê-los e documentar em filmes sua existência e magia
subaquática.
Pois nesta manhã de sexta-feira de julho, após remoer questões
de vínculo e de seus questionamentos sobre a morte, saiu da sessão de
terapia como se fosse um dia normal. Pegou o Dois Irmãos e se dirigia ao
trabalho matutino que a esperava em casa, quando pensou quão poético seria
entregar-se a um tubarão na praia, provavelmente deserta naquele dia chuvoso. Mudou de
caminho e foi pra Boa Viagem.
terça-feira, abril 09, 2013
Pequena ode de amor
Lara Lemos
Carrego no bolso
minha cruz de seda
carrego o açoite
carrego a estrela.
É de flor e fere
é de pluma e pesa
é de fogo e abranda
é de água e queima.
Está longe e perto
em fio e espada
na dor e no sexo
no céu e em nada.
Às vezes é beijo
-- ponte inaugurada --
arrepio noturno
palavra calada.
Carrego no bolso
minha cruz de seda
carrego o açoite
carrego a estrela.
sexta-feira, janeiro 25, 2013
Para Brunilda Surfistinha
Lembro-me de que essa sensação de
cabeça oca era algo que sentia quando voltava da balada, nos meus anos de
juventude paulistana. É uma sensação estranha, um vácuo com eco, uma falta de
linearidade no raciocínio em que pouco faz sentido e nada se concatena. Mas é o
que tem pra hoje.
Um pouco mais à frente, uma
motoca passa, e eu me alegro com o pensamento de que pudesse ser uma de minhas tão
esperadas entregas. São quase onze da noite, isso nem é uma possibilidade. E
não é mesmo: vejo o caseiro do meu conjunto residencial aproximar-se do portão
e descer. Entro em casa, ele me chama pela janela, um dos meus livros chegou.
Felicidade pequena, mas feliz, ainda assim.
A doença é uma sarcina onerosa. É
uma sina rancorosa. Hoje me dei conta de que faz seis anos que ela me persegue.
Provavelmente só acordei pro fato pelo desgosto da notícia de um exame a ser
repetido. Aquele mesmo. O da outra vez. Aquele agressivo, apesar de em nada
dolorido. Aquele que me deprime, que me faz chorar, de dor psicológica,
exaurido num sentimento de humilhação. Exame invasivo. Exame inviável. Exame
impensável. Continuo achando que só pode ser
teste de paciência. Esses médicos têm formas e mais formas de testar a
paciência do paciente.
Cheguei de volta ao câmpus com
uma tristeza imensa, pedindo pelo gabinete vazio. Era pouco pra pedir, mas era
muito pra esperar. Dois monitores usavam o computador, e eu fui obrigado a
permanecer na sala por uns quarenta minutos e me fazer de ocupado para evitar
que pensassem que eu saía só porque eles estavam ali. É possível que nem se ligassem
na minha saída. Talvez nem tivessem reparado na minha entrada, mesmo eu tendo dado boa-tarde. E eles tendo respondido.
Na rua, pouco depois da primeira
motoca, a do caseiro, apareceu uma segunda. Duas crianças lindas, um menino de
cueca e uma menina de calcinha, conversavam no portão, e meu raciocínio
errabundo se radicou e estancou quando ouviu a menina, que morava do outro lado da rua,
dizer que só podia brincar se fosse na casa dela. Vi-a atravessar a rua
correndo e ser atropelada, eu tentar fazer algo, impotente, e a dor que isso me
causaria. Por que os pais deixam suas crianças na rua, à noite? Quanto sofrimento! Mas nada aconteceu, afinal; a motoca passou, eu respirei e me chamei de neurótico e outras coisas afins.
De tarde, quando ia pro gabinete,
vi mais alguns desses meninos que ficam ensaiando coreografias nos espaços
abertos do Centro. É bacana dar aula no meio das Artes. É um tocando, é um dançando,
é outro sendo estranho... Fato é que um deles era lindinho. Na volta do
gabinete, depois dos quarenta minutos de disfarce, desço as escadas e vejo que
o mocinho que eu tinha achado bonitinho me olha e faz um comentário. Os três
colegas do grupo concordam, olhando em minha direção, e eu ouço, ao passar
perto do grupo, algo como “só faltava o gorrinho”.
Que triste. Eu estava com uma
camiseta listrada (que espanto!...) de branco e vermelho e me disse que, se só
faltava o gorrinho, só me podiam ter chamado de Papai Noel. Bom velhinho é o
caralho. Na minha depressão, eu me senti gordo, velho e com frio como se
estivesse no Pólo Norte. Vontadinha de morrer. Antes do exame, claro. Nem
durante, nem depois. Antes.
Mas a vida tem suas belezas. Ela
traz entregas de pequenas pérolas de alegria inesperadas, como o livro esperado,
como o telefonema inesperado. Minha amiguinha Brunilda. Um papo bacana no café,
avalanche de histórias de elefantinho deprimido, paquiderme da depressão, mas
uma voz amorosa que explica, depois de rir:
“Ahahah, é verdade, hoje você
veio de Wally!”
“Wally?!”
“É, ué. Listras vermelhas,
listras brancas, óculos... só faltava o gorrinho!”
Às vezes é bom enxergar o lado
positivo da história. Afinal, quem não quer ser um dos temas de Medianeras?
quarta-feira, janeiro 02, 2013
Bilan de 2012
Eis-me
aqui, renovando uma das minhas tradições pessoais, o bilan de leituras, que chega junto com 2013, “ano de maravilhas”. Um José de Alencar e um
Patrick Chamoiseau, como de praxe, vitualha anímica. A ilustração é uma foto de Hope (2009), arte de papel e recorte em livro de Su Blackwell.
19/1
– Tempo de delicadeza, Affonso Romano
de Sant’Anna
28/1
– Thebaid, Statius, translated by J.
H. Mozley
29/1
– Quem ama Literatura não estuda
Literatura, Joel Rufino dos Santos
4/2
– Contos da Sibéria, recontados por
Michaela Tvrdíková, trad. Thereza Christina F. Stummer
11/2
– Manual de explicação de textos,
Fernando Lázaro Carreter e Cecília de Lara
12/2
– Romanceiro da Inconfidência,
Cecília Meireles (com desenhos de Renina Katz S2)
15/2 – Roteiro
de leitura: Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles, Norma Seltzer
Goldstein
20/2
– Como um romance, Daniel Pennac,
trad. Leny Werneck
4/3
– Breve curso sobre sonhos – técnica
junguiana para trabalhar com os sonhos, Robert Bosnak, trad. Ivo Storniolo
3/4
– Sonhos e relacionamentos, Nicholas
Heineman, trad. Carlos Szlak
26/4
– Para sempre teu, Caio F. – cartas,
conversas, memórias de Caio Fernando Abreu, Paula Dip
29/4
– Dez anos em busca dos grandes tubarões,
Lawrence Wahba
9/5
– Sonhos: um estudo dos sonhos de Jung,
Descartes, Sócrates e outras figuras históricas, Marie-Louise von Franz,
trad. Reinaldo Orth
11/5
– As Troianas, Eurípides, trad. Mário
da Gama Kury
17/5
– Helena, Machado de Assis
20/5
– O que muda com o novo acordo
ortográfico, Evanildo Bechara
23/5
– Gragoatá – Revista dos Programas de
Pós-graduação do IL/UFF, no. 29/2010.2, primeiros sete artigos
6/6
– Bumba-boi maranhense em São Paulo,
André Paula Bueno
8/6
– Contos escolhidos, Artur Azevedo
(seleção e organização de Frederico Barbosa)
28/6
– Ilíada, Homero, trad. Carlos
Alberto Nunes
30/6
– Acentuação e versificação latinas –
observações e estudos, M. Said Ali
1/7
– O marinheiro que perdeu as graças do
mar, Yukio Mishima, trad. Waltensir Dutra
6/7
– 10 lições sobre Santo Agostinho,
Marcos Roberto Nunes Costa
14/7 – Senhora,
José de Alencar
2/9
– Metodologia do ensino de Arte,
Maria Heloísa C. de T. Ferraz e Maria F. de Rezende e Fusari
3/9
– Risíveis amores, sete histórias de amor
extremamente originais, Milan Kundera, trad. Teresa Bulhões Carvalho da
Fonseca
11/9
– Seis propostas para o próximo milênio,
Italo Calvino, trad. Ivo Barroso
17/9
– The New Comedy of Greece and Rome,
R. L. Hunter
20/9
– The Pot of Gold, Plautus,
translated by Sir Robert Allison
18/10
– Amphitryon, Plautus, translated by
Sir Robert Allison
20/11
– O herói de mil faces, Joseph
Campbell, trad. Adail Ubirajara Sobral
22/11
– Comédia e riso: uma poética do
teatro cômico, Ivo C. Bender
31/12 – L’Esclave
vieil homme et le molosse, Patrick Chamoiseau
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