sexta-feira, abril 04, 2008
Que medo a gente tem de ficar sozinho, né? As carências do ser humano são tão absurdas... É triste acordar cedo num domingo de manhã, olhar o céu nebuloso tranqüilo e plácido e ter em si a agitação da falta. Mas eu sou grato a Deus pela sensação da ausência de hoje. Não há nada pior que o sentimento de culpa e dor que pode causar uma falta que nós mesmos criamos. É mais que dolorido pensar que em algum momento esteve nas nossas mãos tudo de sonhado por anos e anos de leitura de José de Alencar, tão-somente para que a nossa imaturidade desvairada pusesse a perder o bebê, bem precioso, com a água suja, ex-bem, da banheira. Há um conjunto de tirinhas do Calvin e Hobbes...
(Parêntese: Impossível não citar Charles Schulz ou Bill Watterson. Tenho-os na categoria de gênios. Já vejo certos amigos torcendo o nariz, mas pouco me importa. EU me outorgo o direito de dizer o que quiser, sobretudo as coisas que são consideradas grandes asnices, neste espaço NADA acadêmico. Aliás, por isso mesmo eu o criei. Xô, gente chata.)
... em que o Calvin perde o Hobbes. Ah, gente, é muito trsite. Ainda não consegui relocalizar a seqüência de tirinhas (eu tenho as obras completas :O) , mas são três livrões de quase quinhentas páginas cada um); se me lembro bem, o menininho tá voltando da escola, é atacado por um totó (por isso que, de totós, só gosto do Snoopy) e acaba deixando o Hobbes (que é um tigre, daí pode se defender sozinho) para trás. Uma das tirinhas apresenta o pobre do Calvin, sozinho no quarto, sem conseguir dormir, pegado à janela com os olhos fixos na rua, perguntando a Deus, no último quadrinho, se já não era sofrimento suficiente... Qualquer que fosse o erro cometido, ele já tinha entendido que estava errado, já tinha se arrependido amargamente, era a hora de terminar o castigo. Mulher de malandro. Apanha sem saber por quê, mas sabe que mereceu. Estranho isso, né?
Uma última coisa que me vem à mente nesta miscelânea de raciocínios interligados é a de uma afirmativa que ouvi há alguns anos. Ela me veio de uma senhora casada, por quem eu guardo especial afeição. À época, ela morava com os filhos e o marido. O comentário tinha como alvo uma outra senhora, amiga que tínhamos em comum, que era uma solteirona muito bem-sucedida, à época, e que vinha sofrendo algumas dessas múltiplas enfermidades que arrasam a civilização contemporânea, quase todas fruto de alguma manifestação depressiva. "Eu não sei como a Fulana pode estar tão mal... ela sempre foi tão bem-sucedida, tão religiosa, tão decidida..." Este último adjetivo, aliás, sempre foi a marca registrada da Fulana. Ao longo da sua vida, todos sempre a haviam considerado uma mulher de-ci-di-da. E ela o era, de fato. Mas enferma. A minha resposta ao comentário daquela Sicrana sobre a Fulana foi doída, um misto de piedade e compreensão: "Você nunca esteve só".
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