segunda-feira, janeiro 28, 2008

O sonho de Ília

Quinto Ênio, Anais, I, 22 (ed. Valmaggi)


excita cum tremulis anus attulit artubus lumen,

talia tum memorat lacrumans, exterrita somno:

“Eurudica prognata, pater quam noster amauit,

uires uitaque corpus meum nunc deserit omne.

Nam me uisus homo pulcer per amoena salicta

et ripas raptare locosque nouos; ita sola

postilla, germana soror, errare uidebar

tardaque uestigare et quaerere te neque posse

corde capessere: semita nulla uiam stabilibat.

Exim compellare pater me uoce uidetur

his uerbis: ‘o gnata, tibi sunt ante ferundae

aerumnae, post ex fluuio fortuna resistet’.

Haec ecfatus pater, germana, repente recessit

nec sese dedit in conspectum corde cupitus,

quamquam multa manus ad caeli caerula templa

tendebam lacrumans et blanda uoce uocabam.

Vix aegro cum corde meo me somnus reliquit.”



Quando a anciã, desperta, trouxe a luz com os membros trêmulos,

é então que aquela, chorando, apavorada com o sonho, conta isto:

“Filha de Eurídice, a quem nosso pai amou,

as forças e a vida agora abandonam todo o meu corpo.

Eis que pareceu que um belo homem pelo ameno salgueiral

arrastava-me por ribeiras e lugares desconhecidos; assim, sozinha,

depois disso, irmã germana, eu parecia vagar

e lenta procurar-te e seguir-te, mas não poder

alcançar-te no coração: nenhum caminho se mantinha firme.

Em seguida, o pai parece com voz alta chamar-me

com estas palavras: ‘Ó filha, antes há algumas tribulações

a serem suportadas por ti; depois, devido a um rio, a fortuna se restabelecerá.’

Tendo o pai dito essas palavras, germana, de repente se retirou,

nem, desejado em meu coração, deu-se a ver,

embora as mãos aos azulados templos do céu

eu, chorosa, estendesse repetidas vezes e clamasse com branda voz.

Com custo, contra a minha vontade, o sonho me deixou.”



Taí. Esse é o texto central da minha dissertação de Mestrado, intitulada "Os 'Anais' de Quinto Ênio: introdução, tradução e notas". Escolhi esse, no fundo, por causa da temática do sonho, que me interessou desde sempre. Aliás, em 2005, quando eu estava em Belo Horizonte, cheguei a começar um curso de interpretação de sonhos com um pscanalista Junguiano, ali perto da Savassi. E também li uns bons trechos da Interpretação do Freud.

Aí, na semana passada, eu sonhei com um sapo, que virou duas cobras. "Maldição, isso, no imaginário medieval", disse-me uma amiga próxima. Shame.