sábado, setembro 07, 2024

 

‘Come on, Hoda. Don’t rain on my parade. I’m a grown-up now and I need to live according to a formula. I want to get married and I want to have kids. Besides, we’re already engaged.’

‘But marriage isn’t supposed to be built upon a formula.’

‘Sure it is. You and your husband Tarek have an agreement. If he cheats on you, you look the other way.’

‘Yes, we have an agreement, and I may turn a blind eye to his mistakes. But I know that he loves me as much as I love him, even more. He treats me very well, and I love that.’

‘I’m going to love Sulayman, too. He’s great. I understand him even more. I have no problem with marriage.’

‘There’s a big difference between loving someone and accepting them.’

‘There’s a passageway between love and acceptance that one has to keep open. Sometimes you don’t even notice that it’s open. And with love, the other awakens something inside of you, something you nurture as much as necessary. Just like a flower, and you know that it only lives as long as you water it.’

‘What are you talking about? I can’t just decide how much to water my love. Love is as irrepressible and as undammable as a raging river. Maybe you’re talking about one kind of relationship. There’s companionship and affection, but there’s a difference. The love that I’m talking about comes with passion and dizziness, with lots of words, true romance and real adoration.’

‘Look, Hoda. I don’t want to leave the window fully open anymore, to let the curtains flap in the breeze. It’s true that if you open a window the air gets a bit more pleasant, but everything can get all messed up, all your stuff can get blown around. You might get cold, too. No, I’d rather just open the window a little bit or else shut it and run the air conditioning by remote control, to just sit here and feel safe. It’s much easier when things are clearly defined, when you know exactly where you stand. If you open the window just a little, you can count the stars, but you go out under a vast sky, you can’t count them all, you get lost, you get all confused.’

‘But there are more beautiful things. If love leaves you exposed under a vast sky, can’t you see how many stars there are up there?’


Alawiya Sobh, This thing called love (translated by Max Weiss), p. 207-208


sábado, agosto 24, 2024


O que ela me contou 


O que ela me contou foi que nunca houve uma obrigação ou uma direção religiosa em sua casa. Nunca tinha sido levada com tom de "assim é que se faz" pra uma igreja ou para um terreiro. Mas sua mãe frequentava um terreiro de umbanda que ficava na vizinha, na vizinha mesma de muro contíguo. Dessa primeira história que ela me contou, guardei o seguinte: "Eu até via minha mãe dançar no terreiro". Pelo que entendi, sua mãe era mesmo adepta da religião, chegava mesmo a incorporar e participava ativamente das práticas. Achei interessante essa visão de olhar de criança, que apreendia provavelmente pouco menos que uma dança nos ritos todos.

Alguns anos depois, uma sua irmã mais velha teve um quadro diagnosticado como epilepsia. Em busca de respostas e refocilamento na situação, a família consultou um babalorixá da umbanda, o qual as redirecionou para o candomblé. Lá a irmã foi tratada e iniciada, fez o santo. Não acompanhei ao certo o que isso fez com os ataques de epilepsia, mas dessa segunda história que ela me contou, guardei o seguinte: "A manifestação religiosa mais linda que já vi na vida foi a minha irmã dançando no centro do terreiro, com a indumentária de Oxum, velada com as contas e levando o espelho, enquanto todos pareciam lhe prestar homenagem". Achei linda esse olhar amoroso de uma criança com seus doze anos, que apreendia apenas a beleza nos ritos todos.

Alguns anos depois, usando-se da ideia de dois de seus irmãos mais velhos, que se haviam por livre e espontânea vontade inscrito para um curso de catequese numa igreja católica, foi ela acompanhada de uma amiga para o mesmo curso, onde se educou daqueles ensinos por curiosidade sua. Imagino que esses ensinos lhe tenham servido de porta de entrada para as visitas que passou a fazer à igreja católica, muitos anos mais tarde, acompanhada de seu companheiro, quando viviam o luto de uma perda imensa. Contou-me que os encontros de casais foram um oásis no meio da dor, e as visitas se intensificaram e mantiveram por um longo período de meses.

De todas essas lindas histórias que ela me contou, guardei no meu coração a serenidade que sempre ouvi em sua voz e os olhares brilhantes com algumas dessas lembranças. E a sensação de que deve ter sido maravilhoso poder olhar para todas essas manifestações do sagrado e da fé com olhos imediatos, sem que ninguém lhe forçasse uma visão de mundo ou uma verdade que despreza todas as outras como coisa maligna. Amo cada vez mais a leveza.