sexta-feira, março 06, 2009

Mighty

Pra não dizer que não falei das flores...

Eu me lembro de pouco, e agora mesmo a memória me é tão falha que mal consigo revisualizar as coisas. Enfim, é tudo tão novo, uma verdadeira constelação de sentimentos familiares que se misturam a coisas nunca dantes sentidas (e eu me refiro de fato a algo que vejo como uma aproximação de orientes)... Eram oito da manhã e o celular tocou com uma musiquinha que era, de certo, o tema de abertura ou encerramento de algum animé. Perguntei qual era o remédio que o alarme prenunciava e ouvi algo como cefalexina. Tinha visto a caixinha no armário da cozinha no dia anterior, imaginei que fossem as drágeas que estavam em cima do lavatório, no banheiro. Ele se senta, eu lhe entrego o comprimido, a garrafa dágua.

"Que foi?"

"Nada."

A pergunta foi provocada pelo meu movimento, ou pelo ruído causado por ele. Estava me levantando da cama, talvez para escrever este texto, não sei mais. Eu não estava com sono, ele podia ficar lá. Eu tinha acabado de ler Socrates in Love, um dos mangazinhos que mais me chamaram a atenção na prateleira que fica em cima da cabeceira da cama. Li à meia luz, ao lado da janela grande de batentes e venezianas, pintada dum vermelho escuro que muito bem combina com os móveis escuros do quarto, talvez de mogno. Chorei horrores, só para variar.

E, no centro, está ele. Os olhos verdes fechados, as pintas que se espalham nada uniformemente por toda a parte, sobretudo nas costas, a cabeça pousada num travesseiro vermelho em que se lê algo em japonês, nos mesmos caracteres para mim hieroglíficos que eu também vejo espalhados pelos cartazes de pano que têm ilustrações de diferentes mangás, pendurados aqui e ali. Desarmosiosa descombinação de cores, um travesseiro vermelho num lençol listrado de azul e branco, um edredom xadrez cinza-preto.

Fireworks, please.


São Paulo, 21 de fevereiro de 2009.